O IAB (Interactive Advertising Bureau) Brasil quer ser visto pelo mercado como uma entidade com um ponto de vista híbrido. Para Cris Camargo, diretora-executiva do IAB Brasil, é importante incluir na discussão todos os envolvidos com o desenvolvimento do setor digital: agências, anunciantes, veículos e empresas de tecnologia. “Essa diversidade faz a gente ser o que a gente é”, diz Cris. Nesta entrevista concedida ao PROPMARK, a profissional defende a autorregulamentação e aborda a contribuição do IAB à discussão a respeito do Anexo D, do Cenp.

Alê Oliveira

Esforços

Do ano passado para cá, a gente resolveu aplicar mais nossos esforços em duas áreas: pesquisa e relações governamentais. Entendemos que o IAB poderia ser quase um hub de conhecimento. Chamamos os associados para que eles contribuíssem com pesquisas organizadas e já é uma das áreas mais acessadas do site. Além disso, a gente entendeu que o IAB também precisava fazer pesquisas proprietárias, agnósticas. Ainda este ano, vamos lançar uma pesquisa sobre o impacto econômico da publicidade digital. Na área de relações governamentais, nós contratamos uma assessoria política, a Patri, e fizemos um levantamento de todos os projetos de lei que podem impactar na publicidade. A gente tem feito uma agenda positiva. Tenho ido muito a Brasília.

Educação

Eu percebi que, hoje em dia, todo mundo tem um curso de publicidade digital, com esse conhecimento de estratégia, de pensamento macro. Então, temos de usar o que o IAB tem de especial. A aplicação real. Cursos que eu chamo de mapeamento de zona cinza, sobre o que ninguém quer falar: ad blockers, mudança no modelo da agência…

Equilíbrio

No histórico dos eventos do IAB, os portais dominavam a cena, já que a publicidade digital era muito dominada por eles. Depois veio uma onda só das empresas de tecnologia, das adtechs. E, com muito trabalho, estou tentando equilibrar as presenças. Fazer circular no palco agências, anunciantes, empresas de tecnologia… esse caos é o que gera o melhor conhecimento. As verdades absolutas não existem. No momento de instabilidade e crise, é muito fácil tacar pedra para lá.

Representatividade

Quando eu digo que o IAB representa o desenvolvimento do setor e isso precisa ser para todos, tem uma pausa dramática: mas não representa só a mim? Não. Não adianta você andar, se o anunciante não andou. Não adianta a agência evoluir, se o anunciante não sabe comprar. É um trabalho de entendimento e de mudança de cultura.

Rede

São 45 IABs no mundo. O IAB Brasil bebe muito no que é feito lá fora. Já estamos discutindo sobre como trazer a Coalition for Better Ads, uma pesquisa feita com usuários de internet para saber as melhores práticas de publicidade digital. É uma via de mão dupla. Agora fomos convidados para falar sobre a administração do IAB Brasil.

Anexo D

O IAB é agência, anunciante, veículo tradicional e digital, plataforma de tecnologia e consultorias. A posição do IAB é híbrida. Ou eu consigo mostrar para o Cenp (Conselho Executivo das Normas-Padrão) que tem muitas facetas da publicidade digital ou minha contribuição vai ser rasa, pobre. A gente abriu um documento colaborativo e todos os associados receberam um link para fazer comentários abaixo das cláusulas. Com esse material, o Cenp vai poder ter clareza e tomar decisões. Depois a gente vai fazer um sumário. O papel do IAB tem de ser a contribuição técnica. A gente acredita na autorregulamentação. Quem escreve a regra precisa entender tudo o que ela inclui e o que não inclui.

Autorregulamentação

Para organizar uma sociedade não se pode fazer o que der na telha. Isso é prejudicial para a economia, para o desenvolvimento, dá espaço para empresas ilícitas, incentiva a má qualidade da prestação de serviço. É muito importante ter a autorregulamentação.

Complexidade

O IAB representa quem busca a transformação digital. A tecnologia vai mudar, os players talvez mudem. É muito prematuro fixar uma posição agora porque amanhã você vai precisar mudá-la. Temos buscado mostrar o IAB para o mercado não como algo único. Essa diversidade faz a gente ser o que a gente é. Não exijam da gente uma letra cravada na pedra.