Os ídolos não são mais encontrados, apenas, nas capas de revistas, nas novelas ou nas mais tocadas das rádios. Eles estão agora, também, nos blogs, no Instagram e no Facebook, nas gravações de dez segundos do Snapchat e nos vídeos do YouTube.

As mulheres, sendo assim, também não são mais admiradas, apenas, por ter cabelos sedosos, peles bem cuidadas e corpos esculturais. Elas são amadas por serem reais, por lutar pela igualdade de gênero, por sofrer ao fazer dietas difíceis e comer naquele restaurante que muita gente pode pagar. O real nunca esteve tão na moda. O possível está transformando mulheres comuns nas maiores influenciadoras da internet e, quiçá, do mundo.

Admirar o que pode ser atingido faz com que muitas delas tenham audiências digitais similares a de veículos de massa tradicionais. Muitas se tornam especialistas dos assuntos que gostam e transpõem esses conteúdos para aqueles que estão interessados nos estilos de vida e na forma como colocam em prática o que pensam. Eric Messa, coordenador do núcleo de inovação em mídia digital da Faap, afirma que o ambiente colaborativo torna a influenciadora digital uma esponja do que os seguidores querem saber.

“As influenciadoras não constroem os conteúdos 100% sozinhas. As pautas nascem dos comentários dos vídeos anteriores, que novamente vão gerar comentários e ainda mais engajamento”, afirma Messa. A pouca idade ajuda a encontrar uma linguagem autoral que dê verdade à interação. E, do dia para a noite, um anônimo pode ganhar seu ‘lugar ao sol’ como o mais comentado da web.

Esse movimento, de acordo Messa, é ainda muito novo para quem está acostumado a trabalhar em um sistema menos interativo e mais fechado. “Conforme os meios de comunicação vão surgindo, acabam influenciando o comportamento da sociedade. Interagimos hoje em todos os canais de formas diferentes e o consumidor de informação se tornou mais participativo, colaborativo e interativo. Se um meio consegue atingir essas características, ele está no caminho certo”.

Isso foi o que aconteceu com ThaynaraOG, de São Luís, no Maranhão, a nova ‘musa’ da rede social Snapchat. Com criatividade e irreverência, a maranhense produz ‘entretenimento’, como ela mesma chama, fugindo do que as celebridades costumam fazer na rede. Thaynara transformou a sua identidade comum em conteúdo que conquista, em média, cinco mil seguidores por dia.

Alessandro Visconde, sócio e CEO da iFruit, explica que o Snapchat é recente e as marcas estão descobrindo o melhor jeito de trabalhar. “Recentemente, preparamos uma ação com a Nah Cardoso (blogueira) para o Itaú. As métricas do Snap ainda precisam ser estudadas e, ao contrário de quando começou, hoje é um canal de comunicação e consumo”.

Nas mídias sociais, em geral, a procura, segundo Visconde, é maior por mulheres quando as marcas querem investir em influenciadores digitais. “Elas têm credibilidade e já vemos uma procura maior em setores que fogem de moda e de beleza, como de automóveis, por exemplo. As mulheres opinam mais sobre os veículos e têm papel forte na decisão de compra”, analisa.

A beleza, por sua vez, já foi muito idealizada. Atualmente, os conceitos passam por uma desconstrução, em que o comum ganha destaque por mostrar a realidade. As mulheres, mostra Messa, não querem mais construir uma beleza idealizada. O discurso está mais politizado com o consumo de informações, que variam de acordo com as ideias discutidas pelas redes.

A força do YouTube

Pode ser o quase diploma de psicóloga que tornou Taty Ferreira uma expert digital quando o assunto é relacionamento e comportamento. A vlogueira do Acidez Feminina conquistou os internautas com opiniões autorais sobre assuntos diversos relativos ao universo feminino. E hoje, a mineira de 28 anos já movimenta 1,4 milhão de visualizações mensais em seu canal no YouTube. No blog, são mais de 900 mil acessos por mês.

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Taty relembra que tudo começou com um blog que era mais um diário pessoal. Foi aí que o site Testosterona convidou a vlogueira para escrever uma coluna sobre assuntos femininos. O sucesso foi tão grande, que Taty decidiu transformar suas opiniões em vídeos no YouTube. E o resultado? É veterana quando o assunto é ser YouTuber.

“Eu comecei quando pouca gente tinha banda larga e smartphone. As pessoas hoje têm internet móvel e conseguem facilmente assistir a um vídeo. E o que era um hobbie, se tornou uma profissão. Já temos uma noção geral do que está acontecendo no ambiente digital”, comenta Taty.

Falar sobre assuntos femininos a aproxima do público, que não se restringe só às mulheres que têm entre 18 e 35 anos. Os homens também participam, enviando perguntas que, eventualmente, não teriam coragem de fazer. Os temas dos vídeos, segundo Taty, vêm 80% de emails enviados por seguidores e contatos pelas redes sociais.

E por estar tão próxima do mundo feminino, as questões de gênero são recorrentes em suas discussões. “Há quem, em um post, me chame de machista, e nesse mesmo post, outra pessoa me chame de feminista. Eu nunca me preocupei em assumir bandeiras, o rótulo vem das pessoas. Mas, naturalmente, me identifico muito mais com o feminismo e gosto de trabalhar temas ligados à igualdade de gêneros”, explica a YouTuber.

A principal arrecadação de verbas do canal vem das parcerias com diversas marcas, que patrocinam conteúdos nos vídeos. Taty já trabalhou com anunciantes como Google, Samsung, Intel, Peugeot, Ford, Sonho de Valsa e Neosaldina. “Eu acho que temos de nos dar conta de que podemos falar sobre qualquer coisa e produzir qualquer tipo de conteúdo. Apesar de existir muitos canais de moda e beleza, precisamos encorajar as mulheres a falarem de outros assuntos também”, explica Taty.

Moda e Beleza

As adeptas ao popular ‘look do dia’ viram nos blogs de moda e beleza a oportunidade de lucrar alto com dicas e lifestyle. E o segredo é simples: ser autoral e publicar absolutamente tudo o que gostam, pensam e vestem. A fórmula deu tão certo que blogueiras como Thássia Naves, Camila Coutinho, Camila Coelho e Lala Rudge, por exemplo, são presenças garantidas nas primeiras filas das semanas de moda mais importantes do mundo.

Famosa entre os adolescentes, Niina Secrets também se aventurou pela moda e beleza para conquistar seu espaço digital. Aos 16 anos, ela criou um canal no YouTube para falar de moda e dar dicas de beleza. Gradualmente, explica Niina, a audiência foi crescendo e hoje já são mais de 1,7 milhão de inscritos e 142,8 milhões de visualizações no canal.

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Cinco anos depois, aos 21, Niina marca presença em todas as redes sociais, inclusive no Snapchat, no qual o uso tem crescido entre os influenciadores digitais. Ela também é exclusiva de cabelo da Unilever, usando sempre os produtos da marca.

“Muita gente já sabe o que faz um YouTuber e também é um ambiente muito democrático, porque cada um realiza o seu trabalho da forma como quiser. O mercado para as mulheres é maior, pois elas buscam mais dicas na internet e temas relacionados a moda e beleza”, analisa Niina.