Escrevo este artigo a bordo do meu voo com destino à Austin para o SXSW 2017, festival do qual participarei pelo terceiro ano consecutivo. Minha leitura de bordo é a edição de fevereiro da revista SXSW World, que destaca alguns dos temas centrais que serão abordados durante o festival deste ano. E o assunto sobre o qual resolvi escrever é um que me interessa (e preocupa) muito, que é o das notícias falsas – fake news.

A reportagem da SXSW World destaca a já sabida preocupação crescente que o assunto despertou no universo do jornalismo a partir das eleições estadounidenses, que sofreram a influência negativa da disseminação de notícias falsas, principalmente através das redes sociais. Ainda que o real efeito desta prática negativa sobre o resultado das eleições não possa ser medido, parece evidente que os efeitos das mesma foram extremamente nocivos para a credibilidade de algumas das plataformas sociais que ajudaram alavancar o alcance de notícias falsas, produzidas com propósito claro de gerar a desinformação,

O artigo relata ainda que, de maneira um pouco tardia, plataformas como o Google e o Facebook criaram mecanismos para dificultar a disseminação de notícias falsas, como por exemplo ferramentas que possibilitam aos usuários marcar notícias como potencialmente falsas, quando desconfiam de sua veracidade ou acordos estabelecidos com organizações como a International Fact-Checking Network (IFCN), que ajuda a verificar a autenticidade de notícias publicadas.

Contudo, um dos pontos centrais de toda esta discussão, que muitas vezes é subjugado pelo fator da motivação financeira dos produtores de notícias falsas, baseado nos modelos de pagamento em função de audiência de muitas plataformas, é que as notícias falsas só ganham relevância e geram o impacto negativo que vivenciamos de maneira mais dramática ao longo do ano passado, tanto nos EUA, como no Brasil, porque as pessoas as compartilham sem qualquer filtro ou preocupação em checar o seu teor.

Uma rápida pesquisa na internet muitas vezes possibilita identificar quando uma notícia é falsa, porque ela já foi desmentida por algum órgão verificador ou mesmo por indivíduos. Parecer sempre ser mais fácil compartilhar, baseado numa crença pré concebida, a buscar verificar a veracidade de uma informação publicada.

Uma das entrevistadas pela revista, Kathleem Culver, diretora do Center for Journalism Ethics da Universidade de Wisconsin-Madison, destaca que ao possibilitar que notícias possam ser marcadas como potencialmente falsas em uma rede social, aumentamos a responsabilidade de quem resolve compartilhá-la. Ou seja, cria-se um ônus maior às pessoas para o compartilhamento de notícias falsas e se minimiza o “efeito manada” que constantemente vivemos em nossa sociedade de conteúdos e cultura rasos.

Espero trazer muitos novos aprendizados sobre este e outros assuntos do SXSW, como também o pude fazer nos anos anteriores. E espero também que a tecnologia possa ajudar a colocar alguns freios na estupidez humana.

André Zimmermann é empreendedor digital nas empresas NetCos, smartclip, AdGlow, Blasting News e Kiddo