Trechos de uma entrevista de Washington Olivetto, chairman e CCO da WMcCann, à BBC Brasil tem gerado polêmica na internet. O publicitário disse que “pensar fora da caixa”, “quebrar paradigmas”, “desconstruir” e “empoderamento feminino” são expressões que ocupam a categoria “clichês constrangedores” criados pela publicidade e pela sociedade. 

Na conversa, o publicitário comentou que esses termos “são todos primos-irmãos de um baixo nível intelectual, do ‘beijo no seu coração’. A gente tem que fugir desses clichês”. Ele cita que, em 1978, quando criou o Garoto Brombril, percebeu que as mulheres eram tratadas como “idiotas” pelas propagandas de produto de limpeza. Por isso, a presença de um homem seria surpreendente. Esse insight teria vindo de um movimento da publicidade em perceber o que acontece na sociedade.

O profissional disse na entrevista que, atualmente, existem duas coisas que considera ruins, o politicamente correto, que é ‘bem-educado’, mas é chato”; e a detecção do politicamente incorreto, que “às vezes é engraçado e mal-educado”. Olivetto também afirmou que a maior parte das causas sociais “contém um componente de oportunismo”.

As palavras do criativo não repercutiram bem na internet. Viviane Duarte, fundadora do Plano Feminino, criticou em seu perfil no Facebook a postura de Olivetto. Ela escreveu que  foi “constragedor” ler a entrevista, mas “importante para entendermos a visão de pessoas que pararam nos anos 50 e continuam liderando as criações de marcas globais”.

“Nesta matéria, este sujeito, um dos deuses da publicidade brasileira, diz que empoderamento feminino e diversidade na propaganda é coisa de gente de baixo intelecto e que a obrigação do consumidor é consumir e não se meter na licença poética da publicidade com ideias espatafúrdias. Além disso, defende uma ideia criativa onde sugere que um Porsche é melhor que uma mulher! Não, meu senhor. Não existe licença poética para o machismo e nada que denigra pessoas que você chama de minoria, mas que são as que consomem os produtos das marcas que você atende. […] Preparem-se para tirar campanhas milionárias do ar e colocar suas agências de PR para gerir crise ao invés de conquistar reputação para suas marcas”, escreveu Viviane. 

O Think Eva, originado do Think Olga,  também criticou a postura de Olivetto. Em sua página no Facebook, a agência de consultoria afirmou que “é uma infeliz coincidência que, na semana de lançamento do nosso estudo #CompromissoInegociável, no qual reforçamos a importância de marcas e empresas em se comprometerem com a causa feminista, uma figura conhecida da publicidade tenha a ousadia de comparar mulheres a automóveis em um grande veículo de comunicação”, escreveu.

Já no Twitter, o profissional recebeu apoio de usuários, a maioria apontando que a entrevista completa dá outra ideia do que Olivetto teria dito.

O post da BBC Brasil no Facebook sobre a entrevista recebeu mais de 500 comentários, que se dividem entre criticar e apoiar o publicitário, também nesse caso com o argumento do entendimento da entrevista completa.

“Sinceramente, eu não entendo. A entrevista é interessantíssima, inteligente. Ele defende o politicamente saudável, crítica o ” empoderamento feminino” enquanto conceito vazio, como clichê, e enaltece a liberdade feminina na prática, de uma forma inteligente. Enfim, uma entrevista que não tem nada de machismo, de discriminação. O que está acontecendo com as pessoas? Não leem por completo a entrevista, e já partem logo para os comentários? Ou estão tão focadas em determinadas convicções que não se permitem ao contraditório, ao um novo olhar? Sinceramente, não entendo. O cara foi super politicamente correto, educado, e alguns aqui o acusam do contrário”, escreveu Luis Carlos F. Teixeira.

 PROPMARK entrou em contato com a WMcCann que preferiu não se manifestar sobre o assunto.