Um manifesto de 10 páginas que circulou internamente no Google, e que depois vazou para o público externo, levou a demissão de James Damore, engenheiro de software da companhia, esta semana. O profissional defendeu que mulheres não ocupam liderança no mercado de tecnologia por questões biológicas, crítica que ganhou as redes sociais e não foi bem recebida internamente, levando Sundar Pichai, CEO do Google, a tomar a decisão por seu desligamento.

Em nota enviada aos colaboradores, o executivo ressaltou que a empresa tem como política dar liberdade para que se expressem sobre os mais diversos assuntos, mas que no caso de Damore, ele teria se excedido.

“Nós apoiamos fortemente o direito dos Googlers de se expressarem, e muito do que estava naquele memorando é justo ser debatido, apesar da vasta maioria dos Googlers terem discordado. De qualquer forma, partes do memorando violaram nosso código de conduta e ultrapassaram o limite, contribuindo com estereótipos de gênero no local de trabalho”, escreveu Pichai.

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Após a notícia ter ganhado a internet, o engenheiro de software deu entrevista a dois podcasters famosos por postura de extrema direita, nesta quarta (9) justificando sua postura. No dia anterior, Damore já havia publicado um vídeo argumentando que tinha direito de se expressar e que estudava formas de processar a empresa.

“Tenho direito de expressar minhas preocupações sobre os termos e condições de meu ambiente de trabalho e de trazer à tona comportamentos potencialmente ilegais, como detalhei em meu documento”. Em entrevista, o engenheiro contou que teve ideia de escrever o manifesto após participar de um programa do Google sobre diversidade, considerado, em sua opinião, ofensivo.

“Foi totalmente secreto. E eu ouvi coisas que definitivamente eu discordei”, disse. “Havia muita coisa vergonhosa e explicações do tipo ‘Não, você não pode dizer isso, isso é sexista, você não pode fazer isso’. Era apenas hipocrisia”, argumentou.

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Sobre a polêmica e ameaça de processo contra a liberdade de expressão, Susan Wojcicki, CEO do YouTube, também se pronunciou. “Como resposta ao memorando, alguns estão tentando defender o autor alegando que é uma questão de liberdade de discurso. Como uma companhia que tem dando apoio a liberdade de expressão, Google obviamente defende o direito dos empregados de ter voz, publicar, ou tuitar suas opiniões”, disse, reforçando o anúncio de Pichai.

“Mas enquanto as pessoas tenham o direito de expressar suas crenças em publico, isso não significa que as empresas não devam tomar atitude quando mulheres são submetidas a comentários que perpetuam estereótipos negativos sobre elas baseados em seu gênero. Todos os dias, empresas tomam atitudes contra funcionários que produzem comunicados ilegais sobre seus colegas de trabalho ou que criam ambiente hostil”.