O que me inspira? Música. Chico, independentemente de ideologias. Só a forma e o conteúdo das suas letras e músicas. Situações que nos cercam, retratadas com a genialidade que o caracteriza.

A esperança de um amor muito ansiado: “Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar, com seu vestido decotado, cheirando a guardado, de tanto esperar” (Valsinha, Vinicius & Chico).
O amor (ainda) incompreendido, com “Ele sabe dos caminhos (…) no meu corpo se escondeu, minhas matas percorreu (…) nas trincheiras, quantos ais, ai” (Cala a Boca, Bárbara, Chico & Ruy Guerra).
Uma paixão impossível, com “Eu preciso me mostrar bonita, pra que os olhos do meu bem não olhem mais ninguém (…) espalho os meus rostos e finjo que finjo que finjo que não sei” (A Mais Bonita, Chico).
Um amor interesseiro, em “Mesmo que você fuja de mim por labirintos e alçapões, saiba que os poetas como os cegos podem ver na escuridão (…) mesmo que os romances sejam falsos como o nosso (…) são bonitas as canções, mesmo sendo errados os amantes, seus amores serão bons” (Choro Bandido, Edu Lobo & Chico).
A saudade de um amor, com “Te ligo afobada e deixo confissões no gravador, vai ser engraçado, se tens um novo amor” (Anos Dourados, Tom & Chico).
A clareza do prazer apenas pelo sexo, declarada em “Eu te farei as vontades, direi meias verdades sempre à meia luz. Mas na manhã seguinte, não conta até 20, te afasta de mim, pois já não vales nada, és página virada, descartada do meu folhetim” (Folhetim, Chico).
O desejo que fica no desejo, expressado em “Te amando devagar e urgentemente (…) prefiro então partir a tempo de poder a gente se desvencilhar da gente, depois de te perder, te encontro, com certeza (…) onde não diremos nada, nada aconteceu, apenas seguirei, como encantado ao lado teu” (Todo o Sentimento, Cristóvão Bastos & Chico).
Um amor febril, narrado em “Quero ficar no teu corpo feito tatuagem (…) Quero brincar no teu corpo feito bailarina, que logo se alucina (…) E nos músculos exaustos do seu braço, repousar frouxa, murcha, farta. Morta de cansaço” (Tatuagem, Chico & Ruy Guerra).
O amor incondicional, detalhado em “Se nós, nas travessuras das noites eternas, já confundimos tanto as nossas pernas, diz com que pernas eu devo seguir. Meu sangue errou de veia e se perdeu (…) na desordem do armário embutido, meu paletó enlaça o teu vestido e o meu sapato ’inda pisa no teu” (Eu Te Amo, Tom & Chico).
A solidão de um amor não mais correspondido, com “O que é que eu posso contra o encanto, desse amor que eu nego tanto (…) com seus mesmos tristes velhos fatos, que num álbum de retrato eu teimo em colecionar” (Retrato em Branco e Preto, Tom & Chico).
A despedida incerta de “Se eu demorar uns meses convém, às vezes, você sofrer. Mas depois de um ano eu não vindo, ponha a roupa de domingo e pode me esquecer” (Acorda Amor, Leonel Paiva & Chico).
O amor perdido, contado em “Corria contra o tempo, eu descartava os dias em que não te vi (…) rodava as horas pra trás, roubava um pouquinho (…) eu surpreendia o sol, antes do sol raiar (…) e te veria confusa por me ver, chegando assim, mil dias antes de te conhecer” (Valsa Brasileira, Edu & Chico).
O baque de uma separação, desabafado em “Pode guardar as sobras de tudo que chamam lar, as sombras de tudo que somos nós (…) aceite uma ajuda do seu futuro amor pro aluguel (…) uma saideira, muita saudade e a leve impressão de que já vou tarde” (Trocando em Miúdos, Francis & Chico).
Inspirações que despertam a autoexigência de fazer melhor. Com açúcar e com afeto. Sempre.

Antonio Fadiga é CEO da Artplan São Paulo

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