Enquanto jornais no mundo todo buscam um modelo para ganhar dinheiro com o digital, a pequena Eslováquia, na Europa Central, encontrou uma fórmula que vem agradando publishers e leitores. Inspirado em modelo da TV a cabo, em maio de 2011 a companhia Piano Media inaugurou um sistema de cobrança por conteúdo online (paywall), reunindo nove dos maiores publishers daquele país, responsáveis por 44 sites. Para acessar o conteúdo, o leitor pode optar por assinaturas semanais (€ 0,99), mensais (€ 2.90) ou anuais (€ 29).

A Piano Media fica com 30% do valor das assinaturas. O veículo pelo qual o usuário registra-se fica com outros 40% (o leitor só precisa cadastrar e logar-se uma vez). O restante é dividido entre todos os participantes. Só no primeiro mês, o negócio gerou receita de € 40 mil. “As empresas entenderam que compartilhar a mesma estrutura online faz sentido, assim como criar produtos que os leitores, na verdade, preferem, mesmo que isso signifique algum nível de cooperação com concorrentes”, afirmou Tomas Bella, ceo da companhia, em entrevista ao propmark.

A empresa já começou sua expansão. O mesmo modelo acaba de ser inaugurado na Eslovênia, no Leste Europeu. O país tem 1,3 milhão de usuários na internet, o equivalente a 65% da população. O objetivo da Piano Media é atingir, no primeiro ano de operação, 1% de todos os que acessam conteúdo digital.

Alguns críticos, no entanto, acreditam que a cobrança pelo acesso pode gerar um efeito contrário: cobrar por conteúdo na internet geraria queda no número de leitores, o que afastaria anunciantes e perda na receita com publicidade. Bella diz que não. “Algumas pessoas nos perguntam por que nossas metas são tão conservadoras. É porque realmente pretendemos construir um modelo que não tenha absolutamente nenhum impacto em qualquer outra área”, diz. “Não é como aderir e perder 5% em receita de publicidade. Essa será uma nova fonte de renda para os veículos, sem nenhuma perda em faturamento ou tráfego”, garante o executivo.

Nove dos maiores publishers da Eslovênia, donos de 12 diferentes marcas e websites, já aderiram ao projeto, incluindo a maioria dos principais jornais daquele país, segundo a empresa. Os veículos, que antes disponibilizavam 3% do conteúdo online na área restrita para assinantes, irão elevar esse número para 10%.

Expansão

No momento, a Piano Media discute com outros 11 países do continente europeu a implantação do sistema, e deve inaugurar projeto semelhante em outros três até o final de 2012. O executivo descarta, por ora, levar o modelo para a Europa Ocidental, já que o mercado em países maiores, como Inglaterra, França e Espanha, “é muito fragmentado”. “Nosso foco neste ano será principalmente os países de pequeno ou médio porte”, ressaltou. Ele também acredita que, nos próximos mercados onde a companhia pretende atuar, não haverá concentração tão grande de veículos sob o sistema paywall. “Na maioria dos outros mercados, entre três e seis publishers participantes seriam suficientes para a Piano atuar”.

Questionado se a cobrança por conteúdo online é uma tendência irreversível, o executivo é reticente. “Eu não acredito que alguém possa prever o que acontecerá na indústria de jornais, se cobrar por conteúdo realmente veio para ficar ou não. O que sabemos é que os países que hoje utilizam nossos serviços estão em meio a uma crise e necessitam fortemente de um novo canal de receita”, completa.

por Keila Guimarães