Quando o Snapchat abriu operação própria no Brasil, em 2016, o encantamento dos anunciantes foi imediato. Afinal, qual marca não gostaria de bater recorde como o da Taco Bell, que alcançou mais de 224 milhões de visualizações em apenas um dia no aplicativo? A rede de fast food patrocinou máscaras que transformavam a cabeça dos usuários em tacos gigantes, e é considerada um dos principais cases em redes sociais.

Em terras brasileiras, no entanto, o modelo comercial não decolou, abrindo espaço para concorrentes desenvolverem tecnologia semelhante ao do Snapchat, adaptando recursos já consagrados de “comunicação efêmera” e de quebra, oferecer formatos mais claros para anunciantes. Nesta terça-feira (28), os usuários do Facebook foram apresentados ao stories, timeline onde os usuários podem contar seu dia utilizando imagens e vídeos que desaparecem em 24 horas. O recurso também já está disponível em outras duas empresas do grupo: Whatsapp e Instagram.

Depois de trazer um pedacinho do Snapchat para todas as suas companhias, as especulações sobre as razões que levaram a rede de Zuckerberg à decisão foram inevitáveis entre especialistas de tecnologia e mercado financeiro. Seria uma espécie de represália por não ter conseguido comprar a empresa, como pretendia em 2013? Qual será o futuro do aplicativo agora, que tem sofrido quedas constantes na bolsa de valores desde terça-feira? E quanto ao modelo que inaugurou? É possível que a empresa tenha o mesmo fim que o Orkut, tornando-se obsoleta?

Para Flávio França, sócio-diretor da agência Ever, é visível a tentativa do Facebook de estimular a geração Y, principal público do Snapchat, a migrar para suas plataformas. Pesquisas recentes demonstram a audiência cada vez mais velha na rede de Zuckerberg, restringindo seu alcance e penetração em uma parcela relevante no mercado publicitário.

“A estratégia do Facebook é dupla: fazer com que os usuários não saiam das suas aplicações e recuperar audiência dos jovens após a debandada nos últimos anos. Se compararmos a base de usuários das duas plataformas é evidente que o Facebook é superior, com 1.2 bi contra 150 milhões, mas o Snapcht tem o trunfo de atrair jovens de 18 a 30 anos, nicho em que o Facebook tem perdido preferência”.

Henrique Rojas, CCO da agência Peppery, concorda em partes com o colega, ressaltando que a estratégia do Facebook pode ser a de testar qual plataforma tem melhor aceitação com os recursos da comunicação efêmera. Para o executivo, há também tentativa clara de o Facebook se posicionar como um grande hub de todas as formas de comunicação digital, garantindo audiência mais consolidada.

“As pessoas não precisam de mais um aplicativo ou rede social. Se elas já estão no Facebook, faz muito mais sentido encontrar uma forma para que elas permaneçam lá, e isso é o que a companhia está fazendo ao oferecer recursos do Snapchat”.

O executivo ressalta ainda que a jogada do Facebook tem como consequência direta o esvaziamento do Snapchat, diminuindo sua relevância perante os usuários da plataforma e consequentemente o mercado anunciante. “O Snapchat funciona muito bem para os influencers contarem seu dia a dia, mas quando você compara com as bases de usuários de Instagram e Facebook, começa a ficar inviável. É mais útil atacar as bases maiores. Para quê ter o mesmo trabalho para falar com audiência cada vez menor? É como comparecer em uma festa em que ninguém mais está indo”.

Se por um lado, as recentes investidas do Facebook representam ameaça a própria existência do Snapchat, por outro, essa queda de braço está longe de ter fim. Segundo os especialistas, a companhia tem totais condições de virar o jogo. Não à toa, a receita publicitária da empresa tem expectativa de crescimento de 158%, de acordo com o eMarketer, alcançando US$ 770 milhões neste ano.

“O Snapchat tem plenas condições de conseguir se reinventar. Mostrou seu DNA incrível de inovação ao apresentar ao mercado o valor do agora, da instantaneidade dos momentos. Foi também o primeiro aplicativo em que logo de cara, o usuário tem sua câmera aberta fazendo um convite a criação de conteúdo. Trouxe ainda recursos de reconhecimento facial e as populares máscaras, entre tantas outras coisas. Se eles conseguiram fazer tudo isso primeiro, podem fazer outras coisas novas também”, finaliza Rojas.