Alessandra Sadock, diretora de criação da Artplan, faz uma dupla estreia no Cannes Lions este ano: no júri do maior festival de criatividade do mundo e também em uma categoria inteiramente nova, intitulada Industry Craft Lions, criada para reconhecer técnicas de profissionais que se valem de habilidades artísticas para entregar soluções de comunicação. Na sua visão, a categoria vem para valorizar os detalhes que levam uma ideia a funcionar. Valorizar o caminho no lugar do destino, o processo no lugar do produto final. Confira a seguir trechos de sua entrevista.

Divulgação

Industry Craft
É uma categoria nova. Ainda não tem histórico. Vamos ver para onde ela caminha. Desde que Cannes se tornou um festival de criatividade, na forma mais ampla, é justo que se premie, além das ideias, as técnicas que fazem a diferença para que as campanhas mereçam o destaque que tiveram. Dizem que Deus está nos detalhes, isso é craft. O mais importante é a ideia, mas quando você chega nela é só a metade do caminho, ainda existem muitas decisões e caminhos a serem tomados até a execução final.

Arte
Habilidades artísticas servem para tudo na vida. Nada como criar uma combinação de roupa com personalidade ou conversar com alguém que sabe usar as palavras como ninguém. A arte é uma das maiores formas de conectar, tocar pessoas. Talvez empate só com a música. A propaganda sempre vai poder usar todas as formas de conexão para emocionar.

Festival
Acho que já fui ao festival de Cannes umas cinco vezes (sou horrível para datas e números). A primeira vez era quase uma criança, pelo menos é assim que eu me lembro. Trabalhava na GR3, onde conheci e casei com o Gustavo Bastos. Daí pra frente, todo ano dá aquela vontade de ir. O festival é sempre muito motivador. Nas primeiras vezes, íamos sem conhecer nada do que rolava de ideia no mundo. Depois, com a velocidade da informação circulada, muitas vezes já conhecemos bastante coisa. Mesmo assim, a injeção de empolgação e a vontade de fazer um trabalho foda é sempre muito alimentada lá.

Júris
Essa é a minha primeira experência internacional como jurada. Imagino que vai ser incrível. Já fui jurada ou presidi júris de prêmios brasileiros, como Prêmio Globo, Clube de Criação do Rio de Janeiro, Clube do Futuro e Prêmio Abril. Como jurada procuro privilegiar a ideia e valorizar muito a execução. Ser verdadeira, espontânea e empática. Acho que essa é minha filosofia na vida também. Vou aguardar ainda as diretrizes do presidente do júri, mas no geral acredito neste critério.

Desafio
Claro que não estar na minha língua nativa será um limitador. Mas acredito que estaremos todos muito empolgados com a oportunidade única e julgando um assunto que nos une. Imagino que isso provoque um grande sentido de cooperação e trabalho em equipe.

Brasil
O Brasil tem um histórico clássico de boa propaganda não é de hoje, mas a evolução do craft foi ainda maior nos últimos anos. Aquele Brasil que compensava um craft mais pobre com ideias simples já não existe mais, somos o país das ideias e do acabamento também, do cuidado, do detalhe. Não gosto de fazer previsões, mas estou embarcando com muito orgulho de representar nosso mercado nesta competição. Na minha opinião, a propaganda brasileira anda um pouco tímida. Mas em Cannes, quando reunimos o que temos de melhor, o Brasil sempre surpreende. No dia a dia, vemos tudo diluído, então a sensação é sempre de que o ano está fraco, mas lá é diferente. O Brasil ganhou GP de Film (com o comercial 100, da F/Nazca S&S para Leica) há pouco tempo e com uma peça de um craft impressionante. Antes do festival, ninguém apostava em GP para o Brasil. Saíremos mais uma vez vitoriosos, tenho certeza.

Início
Sempre gostei de desenhar. Chegava da escola e passava a tarde inteira desenhando. Sempre soube que faria algo relacionado a isso. Decidi estudar comunicação visual, uma espécie de design misturado com direção de arte. Logo no início da faculdade, meu pai jogava vôlei de praia com o Franklin, dono de uma produtora, a Blow Up. Ele pediu um estágio pra mim. Lembro-me de estar na sala dele, na produtora, e ele me dizer que as duas melhores agências na época eram Artplan e DPZ. Ligou primeiro para Artplan, deu ocupado. Ligou então pra DPZ e falou com o Juan Vicente, diretor-geral. Foi assim que comecei.

Trabalhos
Gostei da campanha de Natal de 2013 da Harvey Nichols, Sorry, I spent it on my self. É original, criativa, engraçada, corajosa e com aquela insuperável direção de arte britânica. Estava espalhada por quase todas as categorias, sempre com muita adequação a cada meio. É daquelas campanhas que só aparecem de tempos em tempos. Para este ano, gosto muito do filme de Apple Home Pod por Spike Jonze. Supercraft!

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