Divulgação

Com o filme “True Collors”, criação da Propeg, a produtora Madre Mia conquistou em 2018 Leão de prata na área Film do Cannes Lions. Este ano, com uma releitura do icônico comercial “Meu Primeiro Sutiã”, estrelado por uma adolescente trans, busca prêmios em Glass e Film. O resultado oficial será divulgado nesta sexta-feira (21) no Palais des Festivals. A criação original é de Washington Olivetto para a marca Valisere à época da W/Brasil, interpretado pela atriz Patricia Luchesi, Leão de ouro no Cannes Lions de 1987. Nesse espaço de 32 anos o filme permanece contemporâneo e inspirador.

O trabalho foi apresentado em abril deste ano para o cliente Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais). A apresentação oral para os jurados da competição Glass Lions foi nesta quarta-feira (19) por Bruna Benevides, diretora da Antra e Thiago Artimonte, diretor de cena da Madre Mia.

Confira a entrevista concedida por Rafael Dammy, sócio e diretor da Madre Mia, que integra o G8 Group, que tem a liderança do empresário Edgard Soares:

 

Como o job chegou à produtora?

A Antra nos procurou exatamente porque tínhamos conhecimento desse universo trans. Eu já havia feito a direção do filme “True Colors”, também participei na redação e criação desta peça. O “True Colors” já foi premiado em Cannes, na categoria Film com prata no ano passado. A Madre Mia Filmes é uma produtora que tem assessoria constante na temática da transexualidade e nos aprofundamos nesse assunto. “Meu primeiro sutiã” é um filme com uma mensagem de aceitação e acolhimento familiar, inspirado em um case publicitário conhecido mundialmente “O primeiro sutiã a gente nunca esquece”, do Washington Olivetto de 1987.

 

O que a Antra realiza?

É a maior da América Latina na luta contra as graves violações de direitos humanos da população de travestis e mulheres transexuais com sede no Brasil. Presidida por Keila Simpson, a instituição desenvolveu um estudo sobre os assassinatos das pessoas trans em 2018 e divulgou o Mapa de Transfeminicídios. Através dessa ação, denuncia nas instâncias cabíveis os assassinatos de pessoas trans no Brasil para cobrar soluções desses crimes, assim como atua também na promoção de campanhas informativas e propostas para garantir os direitos das travestis e transexuais. O filme faz parte da mais recente campanha institucional da Antra. Hoje o filme “Meu primeiro sutiã” é utilizado pela entidade nas diversas palestras de sensibilização que fazem com famílias que vivenciam situação similar a do filme. A Antra tem registrado em suas redes sociais, depoimentos, principalmente, de mães que se reconheceram na história do filme e buscam por ajuda para lidar da melhor forma com a transição de seus filhos.

 

Qual foi o plano de veiculação? Quais canais foi exibido?

A campanha foi lançada no dia 22 de abril de 2019 na página oficial do Facebook da Antra e através do canal de vídeos Vimeo da produtora Madre Mia Filmes e já alcancou a marca de mais de 76 mil visualizações desde o lançamento. A divulgação da campanha na mídia foi feita por uma parceira estratégica com a ROIx Content, maior empresa de conteúdo programático, mídia e inteligência de dados do Brasil, que desenvolve também significativa atuação internacional, com sedes em vários países do mundo. Matérias exclusivas foram publicadas nos principais e maiores sites e portais especializados em mídia publicitária como o PROPMARK. 

Como surgiu a ideia de usar o Primeiro Sutiã?

A Antra queria fazer um trabalho para conscientização, combate ao preconceito, principalmente, no ambiente familiar das pessoas trans. Daí pensei: como podemos mostrar isso para a população de maneira geral, principalmente, nesse momento delicado que estamos vivendo, de tanta homofobia, preconceito escancarado. Como é que a publicidade pode ajudar nesse sentido? Partindo de uma campanha premiada, a mais conhecida em todo o Brasil que é o filme “O primeiro sutiã”, do Washington Olivetto, e vamos substituir a protagonista por uma adolescente trans. Colocar no lugar de uma menina, uma menina trans, só invertemos os papéis pra mostrar o quanto isso é natural; essa é uma nova realidade, que isso existe, que as pessoas precisam deixar esse preconceito de lado. Outra questão importante, foi o público que gostaríamos de sensibilizar: os pais de pessoas trans. Logo de cara, o filme é um remake de um comercial que fez muito sucesso há duas gerações. Por quê? Queríamos sensibilizar não propriamente a nossa geração, mas os pais das pessoas trans, contemporâneas do comercial “Meu primeiro sutiã” que foi um comercial que chamou muito a atenção.

Você dirigiu a criação? Convidou quem para conceituar?

Sim fiz a direção.

Como o Olivetto reagiu? Ele fez alguma exigência?

Uma parte muito importante do processo foi o contato com Washigton Olivetto, desde o início, quando tivemos a ideia de fazer uma releitura do “Primeiro sutiã”. Fizemos questão de entrar logo em contato com o Washington e ele foi muito receptivo, inclusive, fomos até Londres, eu e Edgard Soares, até a casa dele, contamos como seria o roteiro, ele adorou.  Fez alguns comentários, mas gostou muito e depois também durante o processo de gravação, compartilhávamos as informações com ele, foi um cara solícito sempre e se envolveu no projeto muito pessoalmente. Quando o filme ficou pronto voltamos a Londres, ele nos recebeu no escritório da McCann, apresentamos o filme, ele adorou e a todo momento esteve do nosso lado. Foi uma fonte de inspiração e uma honra, desenvolver um trabalho com essa magnitude e apresentar para o Washington, justamente o cara que é um dos maiores publicitários do mundo, apresentar o projeto e o roteiro e todo o apoio dele nessa releitura de uma das campanhas de maior sucesso dele.

Como foi a apresentação para o júri do Glass? Quem fez a apresentação?

A apresentação foi feita pela Bruna Benevides, diretora da Antra, e Thiago Artimonte, nosso diretor de cena. Partimos do diagnóstico de que o Brasil é o país onde mais se mata pessoas transexuais no mundo, isso é um grande absurdo. A expectativa de vida de uma pessoa trans é de 35 anos. Pensando no enfrentamento desta questão, a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) diagnosticou que um dos principais fatores para essa situação é a falta de acolhimento familiar, 80% das pessoas trans não têm acolhimento familiar. São jovens colocados para fora de casa pelos pais e com isso reforçam esse perverso índice de violência. Estamos falando de pessoas que não têm acesso à saúde, não vão ter acesso à educação, não conseguem estudar, não conseguem bons empregos e acabam caindo na prostituição. Tudo isso, elencamos para o júri e reforçamos que o filme foi feito exatamente sobre essa questão do acolhimento. Logo de cara, o filme é um remake de um comercial que fez muito sucesso há duas gerações atrás, porque quem queríamos sensibilizar não era propriamente a nossa geração, hoje, mas os pais das pessoas trans, contemporâneas do comercial “Meu primeiro sutiã” que foi um comercial que chamou muito a atenção. Outra questão que defendemos e foi muito pensado, é a idade da nossa protagonista. Em média as pessoas trans são colocadas para fora de casa com 12, 13 anos e é exatamente essa a idade da nossa protagonista. Buscamos uma pessoa que tivesse essa idade e que fosse uma pessoa trans real. Tudo isso foi pensado como estratégia e o nosso maior objetivo é ajudar essas pessoas, com essa missão. O material hoje em dia é utilizado de forma didática pela Antra em palestras em todo o Brasil, isso acaba comovendo as famílias porque às vezes é difícil falar e explicar, tem pessoas que precisam ver, se identificar. Um desses casos foi da Daniela que é mãe de um menino trans e ela se comoveu com o comercial justamente na semana que tinha recebido a notícia que sua filha se identifica como menino. Ela estava perdida, sem saber para onde ir e assistiu ao filme que ajudou a ter um melhor entendimento, e até mesmo na aceitação com essa filha. Esse é apenas um dos casos e depoimentos que aconteceram e que a Antra registra que nós também pegamos em redes sociais, mensagens e tudo mais. Nós apresentamos esse depoimento da Daniela, colocando ali a situação, para mostrar o retorno que o filme tem tido e a significância dele. A Bruna Benevides, da Antra, é uma mulher trans, que também não teve acolhimento familiar, foi colocada para fora de casa com a idade próxima de nossa atriz Ludmila. Então, o impacto dela ter feito a defesa foi significativo e estamos com uma expectativa muito grande porque a causa é realmente muito linda.

 Como está a Madre Mia? Quanto tempo de mercado?

A Madre Mia filmes faz parte do G8 Group e chegou em 2016 ao mercado com uma proposta diferente, o projeto “Olhares do Mundo”, que coloca à disposição dos criativos a visão de premiados diretores internacionais. A produção internacional também está no DNA da Madre Mia. Quando montamos o time de diretores fizemos questão de que cada um tivesse particularidades, cada um tivesse uma expertise em um tipo de filme. Então, por exemplo, o Charly Gutierrez tem uma veia de humor muito grande, ele é ótimo para filmes com uma pegada mais de comédia, de timing. Já o Roddy Dextre que é o nosso diretor peruano tem uma incrível sensibilidade para filmes com temática mais documental. Já o Ylli Zymberi, diretor de Kosovo, tem uma visão estética incrível. Já o Jacques Dequeker, como vem da moda, fashion e hair. E o Tobias Nathan que é um diretor americano, muito moderno também, eclético, ótimo para filmes de life style. Como diretor de cena me considero mais eclético, atuo em várias áreas, sempre preocupado em buscar a estética apurada. Acho que se tem uma coisa nos meus filmes, a marca é a estética, mas trabalho tanto com filmes de humor, como com filmes de esportes, filmes sensíveis ou mais documentais, como filmes com uma narrativa story care.

Quais trabalhos mais recentes?

O grupo mexicano, Lala, maior empresa de produtos lácteos das Américas, produziu sua campanha institucional com a Madre Mia Filmes com o diretor peruano Roddy Dextre, que também dirigiu no Brasil filmes para os clientes Sebrae e BB Mafre; o diretor Jacques Dequeker dirigiu a nova campanha de Nutrisse da Garnier de L’oreal que estreou no Brasil; o uruguaio Charly Gutierrez dirigiu uma campanha para a Caixa Cartões. A Madre foi responsável pela nova campanha de Sempre Livre, da Johnson & Johnson filmada na Argentina e que será veiculada em toda a América Latina com direção de cena da argentina Adriana Laham. Também tem um filme assinado pela ONU (Organização das Nações Unidas) e produzido pela Madre Mia celebrando os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos com direção de Edu Pimenta.

 Quais os planos da produtora?

A Madre Mia continuará sua expansão internacional com a abertura de duas filiais internacionais, uma nos EUA e outra na Europa, além das atuais que já temos no México e Uruguai. A busca por talentos criativos pelo mundo não para nunca. Vamos aumentar nosso casting de diretores internacionais. Além disso, vamos ter uma forte presença nos principais festivais internacionais e nacionais da publicidade. Nosso objetivo é colocar a Madre Mia entre as produtoras mais premiadas do Brasil.