Ela voltou. Sempre foi controversa. Foi, possivelmente, na visão de muitos, mais vilã do que heroína. Ficou 20 anos tomando porrada, durante pelo menos 35 dias dos 365 do ano. Entrou para a paisagem do Rio de Janeiro encantando uns, irritando outros. Em 2015, foi derrubada por uma ventania, mas foi recuperada a tempo de completar seu vigésimo aniversário, patrocinada ininterruptamente pela Bradesco Seguros. No ano seguinte, não voltou mais. Saiu de cena e sua ausência se transformou em símbolo da crise de uma cidade.

Na era da polarização, do preto ou do branco, da ausência de tons de cinza, a Árvore da Lagoa ou é linda ou é foco de raiva, em especial de muitos moradores próximos, que não curtem o aumento do trânsito e as limitações de vagas de estacionamento no dia a dia. Até grupos no Facebook em protesto à árvore foram formados, mas andaram esvaziados depois de 2016. Não moro por perto, e reconheço que, nos dias em que ela se acende por volta das 18h, a própria circulação a pé no entorno da Lagoa se torna um desafio. Corredores precisam correr de manhã, ciclistas precisam rever seus circuitos e, obviamente, motoristas precisam pensar duas vezes na hora de planejar suas passagens pelo local.

O que ocorre, como sempre, é certa confusão entre público e privado, entre papel do poder público e das empresas. Algumas pessoas acreditam que prioridade são obras no entorno da Lagoa, a segurança e assim por diante. Pesquisas mostram cada vez mais o quanto as pessoas esperam que empresas privadas resolvam seus problemas, já que o poder público não resolve e anda cada vez mais desacreditado. Investir numa árvore parece supérfluo diante de tantos problemas. Só que não. Podemos ter a árvore, e devemos também cobrar dos nossos governantes que resolvam os problemas da cidade – votando melhor, sendo melhores cidadãos e participando mais do dia a dia da política da cidade e do estado.

Árvore da Lagoa é a maior árvore flutuante do mundo, feita por um time de craques como o Abel Gomes e não há uma tarde quente de dezembro em que eu não vire o olhar ao passar por perto, nem que seja por alguns segundos, para procurar aquele objeto reluzente e pontiagudo no espelho d’água mais bonito do Rio. Embasbacada, pensando em como é possível que um ícone de Natal promova tanta discórdia e ao mesmo tempo alegre tanta gente. Gente que mora perto, e também muitos que saem de bairros distantes do Rio para ter aquela mesma visão que eu, comendo pipoca, milho e cachorro quente e ajudando a vida dos vendedores ambulantes e quiosques naquele período. São centenas de famílias filmando, fotografando, curtindo, passeando e se apropriando daquele espaço e pensando “sim, esta cidade também é minha, tem lugar pra mim e não custa uma fortuna”.

A Árvore da Lagoa é um símbolo de empatia, de pertencimento, de tolerância. Há problemas na Lagoa que devem ser resolvidos? Claro. E também em Copacabana, Queimados, na Penha, em Santa Cruz, em Bangu, em Realengo, na Taquara. A Árvore da Lagoa era uma bola quicando que a Petrobras Distribuidora resolveu pegar, marcando um golaço em termos de timing. Ela agora se chama Árvore do Rio Petrobras. A empresa está interessada em se associar a uma ideia de resgate da autoestima da cidade e dos cariocas. É um investimento em um propósito, que transcende promoções em postos (embora elas também sejam importantes). Com a coragem de não ser uma unanimidade. Como não achar isso bacana?