E aí as pessoas começaram a reconsiderar. Ter ou não ter carro. E aí os jovens foram rebaixando o carro em seu shopping list. Da primeira posição de 20 anos atrás, hoje está na 11ª.

E aí, Eugenio Mattar, filho do legendário Salim Mattar, que protagonizou um dos mais espetaculares “cases” do ambiente corporativo brasileiro, A Localiza, hoje CEO da empresa, observando o desinteresse de seus filhos, de 14 e 16 anos, por automóvel, decidiu vender a Ferrari que tinha em sua garagem.

O negócio de ter e possuir, pensou, chegou ao fim. O importante é poder usar, claro, sempre que preciso. Enquanto isso se multiplicava os aplicativos.

Disruptando, num primeiro momento, os taxistas, num segundo as fabricantes de automóveis, e por tabela, e sem querer, na medida em que convocava motoristas particulares para passarem a oferecer o serviço de transporte, reinventando o negócio da locação de automóveis.

Até dez anos atrás, um taxista que quisesse alugar um dos chamados carros de frota, dependendo do modelo, pagava, aos donos de frotas, uma diária entre R$ 200 e R$ 300.

Hoje, um particular aluga um carro da Localiza, ou das outras duas principais
locadoras de automóveis, por menos de
R$ 90. Esse mesmo carro, locado, há dez anos, custava R$ 150.

Falando à Revista Dinheiro, consciente que seu negócio foi reinventado sem querer pelos aplicativos, muito especialmente pelo Uber, Eugênio Mattar diz:

“Estamos percebendo que o aluguel de carros e o transporte com aplicativos são complementares… com a crise mais gente buscou ganhar dinheiro dirigindo…”.

A Localiza detém hoje 33% de participação de mercado. Uma frota de 190 mil carros. Com a mudança de comportamento das pessoas que venderam seus automóveis ou passaram a deixá-los mais dias na garagem, o faturamento da empresa registrou um salto superior a 30%.

Já a Movida, resultante da fusão da Locamerica com a Unidas, com uma frota de 100 mil carros, dá um desconto de 50% no preço da locação nos aluguéis mensais para quem utilizar o carro para transporte, leia-se Uber.

É isso, amigos. Segue o barco, ou circulam os automóveis. E a cada novo dia a tal da disrupção ganhando características e aspectos diferentes.

Provocando alegrias e tristezas. Desafios, oportunidades e ameaças.

Numa espécie de disrupção sem fim e que se divide e se multiplica.

Segundo Tom e Vinicius, na antológica e disruptiva canção A Felicidade: “tristeza não tem fim, felicidade sim…”

A felicidade de hoje das locadoras, por exemplo, do Uber e de todos que direta ou indiretamente se beneficiam e lucram com a disrupção vai desembocar, inevitável e inexoravelmente, na tristeza que um dia se abaterá sobre as montadoras, já em estado quase terminal, embora ainda não se deem conta, não revelem a mínima consciência da dimensão da crise.

O automóvel, tal com o conhecemos um dia, nunca mais!

E não se fala mais nisso…

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)

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