Aos poucos, o Brasil vai se desvencilhando dos aproveitadores da credulidade popular, usada como endosso de uma promessa de vida melhor, que jamais se concretiza.

A antiga e sempre atual máxima chinesa que recomenda ensinar a pescar em vez de dar o peixe, sempre foi e é desprezada por um tipo de gente que se propõe a fazer política com segundas intenções, entre as quais subir na vida, ganhar muito dinheiro e com ele construir um sólido patrimônio para suas próximas e futuras gerações.

Alê Oliveira

O palco para esse tipo de ilusionismo é sempre parecido: países com atrasado estado de pobreza e ignorância, ainda subdesenvolvidos, mas com potencial para sustentar uma quantidade significativa de políticos, cuja grande maioria não resistiria a uma simples devassa nas suas contas pessoais.

A Revolução Industrial deu início à migração do homem da terra para as cidades, que lhes deram ciência de um outro tipo de vida, mais atraente para ser desfrutada, embora sujeitando a maior parte dos indivíduos a pertencer ao lado do trabalho e não do capital.

Criou-se, a partir dessa nova realidade, a constatação de que uma melhor distribuição de renda propiciaria uma vida melhor ao trabalhador.

Com a “descoberta”, surgiram os estudiosos do assunto e também os falsos profetas, que passaram a condenar o capital, qualificando-o como o grande causador das diferenças e injustiças sociais.

Criou-se a incerteza, oferecendo campo propício para os teóricos pregarem outras vias, aproveitando o campo fértil que já vinha de longe e, bem explorado, poderia render muito para os líderes intelectuais do inconformismo.

Não resta dúvida e a História aí está para confirmar que boa parte deles era bem-intencionada e sofria com as agruras dos trabalhadores, contrapostas à boa vida dos herdeiros do capitalismo.

Suas novas teorias contribuíram para diminuir a enorme desvantagem daqueles em relação aos que já nasciam em berço de ouro, estimulando a batalha pelas conquistas sociais e proporcionando mais luzes aos menos favorecidos.

Paralelamente, a Revolução Francesa foi um dos marcos das grandes transformações que a História passaria a registrar, deixando definitivamente para trás a ordem imperial do “não tendo pão, coma brioches”.

Corta para o Brasil. Somos um extrato fiel dessas dificuldades e transformações. Em contraponto ao atraso que nos fez abolir definitivamente a escravidão só em 1888, nosso desenvolvimento foi acelerado a partir do século 20 e levando-se em conta a barreira representada por um país de território imenso e profundamente diversificado.

Chegamos até aqui alcançando uma colocação que nos situa entre a sétima e a oitava economia mundial. Isso não pode ser à toa.

Mas o progresso tem o seu preço e os oportunistas de sempre. De um lado, o segmento rentista que tem sugado o Brasil como provavelmente nenhum outro país foi sugado pelo menos nestes últimos 50 anos. Na outra ponta, os ideólogos puros de uma esquerda que já teve seus heróis e suas vítimas também no Brasil, sendo substituídos por um novo credo estatizante, o da expropriação para subsidiar e acelerar novas e grandes mudanças sociais.

Pena que seus protagonistas sentiram o gosto pelo dinheiro e pelo poder, ou vice-versa. Perceberam – e isso é relativamente recente no Brasil, que já teve altruístas da causa que morreram na pobreza – que os ricos são mais felizes e decidiram incluir-se entre eles.

Só não podiam virar a casaca. E nem queriam, pois de outra forma não sustentariam suas ambições, tendo já perdido a primeira oportunidade de pertencer a esse mundo quando nasceram.

A solução foi construir uma farsa ideológica, que lhes proporcionaria admiração por uma plateia necessitada de apoio e proteção. Tirar dos ricos para dar aos pobres, que celebrizou o personagem Robin Hood, passou a ser o lema para os novos horizontes que se abriam.

Os ricos mais próximos foram as estatais, fácil de submetê-las à nova ordem instituída, uma vez conquistado o poder. E dar aos pobres, mesmo que migalhas e através de bolsas que não resistiram por muito tempo, foi a palavra de ordem, ao menos da boca para fora.

Outros importantes valores sociais, como a saúde e a educação, foram deixados para trás, a primeira até por falta de melhor saber sobre o problema, muito próprio de governantes que frequentam o Sírio e o Einstein diante de qualquer espirro, e a segunda porque faz parte da sua cartilha não estimular o conhecimento.

Neste momento de redenção nacional, em que a máscara já caiu faz tempo, mas os mascarados, mesmo revelados, prosseguiram cantando seus cantos de malandragem, não se diga que são vítimas de quem quer o terceiro turno das eleições de 2014, ou do capitalismo espoliador, ou do imperialismo norte-americano, ou de outros repetitivos carimbos que fabricam com enorme desfaçatez.

O que de melhor temos a lhes dizer é a nova palavra de ordem, esta sim de um novo país que está surgindo: Fora, embusteiros! Deixem-nos trabalhar em paz que o resto vem como consequência.

Armando Ferrentini é diretor-presidente da Editora Referência, que edita o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda