Nesse delírio do estado-babá que a França pretende cometer obrigando que as fotos retocadas com photoshop indiquem a existência de retoques é um verdadeiro exemplar do Febeamundo, uma extensão planetária do Febeapá, criação de Stanislaw Ponte Preta.

O Febeapá – Festival de Besteiras que Assola o País – pretendia homenagear todos os cocorocas eventualmente no poder que brindavam a nação com ideias e ações que primavam pela absoluta burrice.

Foi uma brilhante criação de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, que assim cutucava os rompantes das autoridades civis, militares e eclesiásticas surpreendidas falando ou fazendo merda.

Examinando os livros de crônicas do ilustre sobrinho de tia Zulmira a gente tem uma visão perfeita da infinitude da estupidez humana. Uma autoridade da época, por exemplo, determinou a prisão imediata
do escritor subversivo Sófocles, sem perceber que estava atrasado em mais de dois milênios.

Um almirante folclórico, Pena Boto, em pleno entusiasmo anticomunista certo dia conclamou o Brasil a invadir a Rússia. Stanislaw, em vez de ridicularizar a ilustre
figura apenas comentou: “Deixa ele ir, deixa ele ir!”

Mas, perguntará a amada leitora e o prezado leitor, o que tem a ver isso tudo com a França e o photoshop? Muito, e me permitam explicar.

Em primeiro lugar, o arrazoado que recomenda a tal advertência quanto ao retoque nas fotografias, é uma agressão às mulheres, pois a providência visa a protegê-las da tentação de parecer com as modelos fotografadas, o que pode levá-las à depressão e até mesmo ao suicídio.
Ou seja, se a gente não avisar que não existem mulheres como as que aparecem nos anúncios, as coitadas das francesinhas vão cortar os pulsos diante da impossibilidade de se parecer com as modelos.

É não é digno de figurar nos anais do Febeamundo? E os homens, como ficam? Será que são mais sábios e sabem distinguir, sem precisar advertência, entre um bonitão retocado e um mais aunaturel?

Aqui no Brasil já existe a picaretagem de se colocar nas fotos de produtos a legenda “foto meramente ilustrativa” que no fundo no fundo significa que o anunciante não se responsabiliza pelo que está mostrando.

A continuar por aí, brevemente teremos o aviso de que os textos também são apenas ilustrativos e necessariamente não devem ser tomados ao pé da letra.

Ou então, na propaganda partidária obrigatória, uma tarja no vídeo poderia informar “texto retocado por marqueteiros”, o que nos ajudaria a não levar muito a sério a nova fase do Bolsonaro, agora comedido, e de Lula, agora de novo revolucionário.

São atitudes meramente ilustrativas, que poderão mudar conforme o momento político. Para terminar, eu me lembro da finada revista Ele&Ela, versão brasileira da Playboy, que conseguia fazer brava concorrência à gringa graças à falta de recursos.

Explico: com muito menos verba, a Ele&Ela não retocava as mulheres nuas que fotografava. E, para os onanistas mais ortodoxos, eram muito mais incentivadoras as fotos de mulheres com aparência real do que as inalcançáveis deusas da Playboy. Para encerrar, eu sou a favor do photoshop em tudo.

A vida fica uma porcaria sem retoques.

Lula Vieira é publicitário, diretor da Mesa Consultoria de Comunicação, radialista, escritor, editor e professor (lulavieira@grupomesa.com.br)