Em meus mais de 40 anos de profissão aprendi que a propaganda, por mais criativa, nada inventa, pois é inspirada no comportamento da sociedade. Aliás, se assim não fosse seria muito pouco eficaz pelo tempo que demandaria para ser decodificada.

É assim no Brasil, é assim no mundo. Quanto mais desenvolvido culturalmente um país, melhor será, portanto, a qualidade da sua propaganda. A publicidade brasileira historicamente acompanhou os méritos da nossa expressão artística. Recebeu os mais importantes prêmios do mundo e sempre teve uma excelente acolhida por parte de telespectadores, ouvintes e leitores.

Essa sintonia com a inteligência da sociedade tirou a atividade da mera condição de “intervalo” entre momentos de interesse dos brasileiros e a colocou como atração merecedora de notável atenção.

Criando, inclusive, na população leiga, “especialistas” no assunto, que falam de propaganda com a mesma naturalidade com que falam de futebol, por exemplo. Mérito de nossos profissionais, sempre atentos às expectativas da população e antenados em seus gostos. Isso fluía naturalmente e em absoluta harmonia entre emissor e receptor até recentemente.

De uns tempos para cá, no entanto, com a espantosa expansão dos meios digitais, veio à tona um padrão de manifestação a que mantínhamos escrupulosamente sob controle. Claro que mau gosto estético e baixo nível cultural sempre existiram. Só que agora, com a comunhão entre redes sociais e o padrão de se comunicar do novo presidente da República, o mau gosto e o baixo nível ganharam a oportunidade de potencializar suas piores características. Podemos dizer que hoje o Brasil faz, oficialmente, a apologia da estupidez e da ignorância. A grosseria está no ar, respira-se idiotice como se normalidade fosse.

Desenterram-se “autores” como o recentemente falecido “Mc Reaça” para que conheçamos as ignomínias da sua “obra”. E quem o desenterra? O presidente da República, ao render homenagens à tão execrável figura. Cada live, aliás, de nossa máxima autoridade é um festival de breguice, superficialidade e apologia da miséria intelectual.

Arma-se, assim, a lona para transformar tudo num circo de horrores, em que a mídia alinha-se ao mesmo funesto destino e passa a dedicar horas infindas às estripulias sexuais de um moleque novo rico. Note-se que com a devida interferência do presidente, em defesa das estripulias sexuais do moleque novo rico. Mas e a propaganda no meio disso tudo?

A notável propaganda brasileira, respeitada no mundo e adorada pelos brasileiros, essa propaganda que sempre se inspirou no comportamento da sociedade para devolver a essa mesma sociedade um produto emocionante, até agora tem conseguido se equilibrar no mar de detritos e gerar anúncios que muita vezes funcionam como sopros de bom senso num ar contaminado de absurdos.

Mensagens que estimulam o respeito pela diversidade, pelo meio ambiente, pela igualdade de direitos, enfim, por tudo aquilo que, oficialmente, caracterizava nosso país. Que essa trincheira saudável resista a esse Brasil doente!

Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing (stalimircom@gmail.com)