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O papel da informação e dos jornalistas fizeram parte do “Democracia, Desinformação e Cobertura Jornalística”, tema  central do 2º Seminário Internacional de Jornalismo, promovido pela ESPM e a Columbia Journalism School. 

Profissionais brasileiros e americanos se reuniram em São Paulo para abordar questões como a produção e disseminação de fake news, a formação das redes sociais na formação da opinião pública e o impacto nas disputas eleitorais, bem como a função da imprensa para o exercício da democracia e desenvolvimento.

Marcelo Rech, presidente da ANJ (Associação Nacional de Jornais), fez a palestra de abertura e ressaltou o valor que o jornalismo ganhou e recuperou diante do atual cenário. “O jornalismo nunca foi e nunca será tão relevante como agora. Não é apenas um clichê. Teremos um papel decisivo na estabilização da sociedade. Nós temos, talvez, a maior missão das nossas vidas nesse momento”, disse.

O profissional fez um breve resgate histórico lembrando desde quando a comunicação era unilateral, passando pelo começo da era interativa e chegando ao grande fluxo de dados e pensamentos. “Antes, nós, jornalistas falávamos e não sabíamos as reações das pessoas, era bem confortável. Depois passamos a ter feedback e foi o início de uma transformação que enriqueceu o jornalismo. E hoje temos comunicação em todas as direções. Antes jornalistas e especialistas ‘tinham’ a palavra final. Agora todo mundo acha que tem a palavra final. De cima para baixo, de baixo para cima, de todos os lados. Isso está gerando um espécie de caos informativo”, disse.

Nesse sentido, o jornalista lembrou que, apesar da intensidade e de ter uma nova dinâmica na sociedade, o fenômeno das fake news não é algo novo. “Há um fluxo direto entre fonte e sociedade e isso de certa forma faz desaparecer o filtro, a reflexão, o questionamento. Mentira existe como tática há pelo menos 200 anos, a diferença é que agora elas passaram a se espalhar de forma instantânea, com grande alcance e impacto”, comentou.

 Ele também alertou que, somada a essa velocidade, está a menor preocupação com a origem e fonte da notícia enquanto vale mais a credibilidade de quem a compartilhou. Por exemplo, ao receber algo de um familiar, a pessoa tende a não desconfiar porque não vê maldade. “Twitter e Facebok eram os grandes difusores de desinformação, mas eles tomaram algumas providências. Essa é a primeira eleição no Brasil profundamente pelo WhatsApp. Compartilhamento é a nova ordem mundial”, afirma.

Alê Oliveira

Caminhos para a imprensa
Ainda falando sobre o desafio de combater as chamadas fake news – termo que ele sugere trocar por desinformação, incorreção e má informação – Rech chamou atenção para riscos adicionais que a imprensa corre. Na visão dele, os três principais são: um enfraquecimento da imprensa em nível mundial, hostilidade à imprensa e a jornalistas, mais regulação e controle sobre o jornalismo profissional.

Apesar disso tudo, ele apresentou um lado otimista e sinalizou algumas janelas para o caso da profissão dar de cara com mais portas fechadas. Uma dessas saídas seria a iniciativa de fazer alianças entre veículos de imprensa, como o Comprova, formado por 24 redações no Brasil. Para isso, ele indica que é preciso aprimorar constantemente as técnicas, para dar respostas de qualidade em questão de horas ou de minutos, uma vez que pesquisas indicam que “a mentira se espalha de 8 a 12 vezes mais rápido que o desmentido”.

“Estamos vendo um início de combate à desinformação. É uma gota no oceano, mas é melhor do que nada. Há iniciativas individuais. Todos que fazem isso com ética e informação fazem com muito mérito. É uma tendência. Nosso papel será buscar informação nova, sim, mas cada vez mais certificar o que é e o que não é verdade no que circula por aí”, disse.

Um segundo caminho e que precisa ser trabalhado em paralelo ao primeiro é a educação para a mídia, ensinar as pessoas a distinguir conteúdos. Na visão de Rech, esse pode levar muito tmepo, mas tende a ser uma solução definitiva. “Não estamos no negócio da informação, mas da confiança. É iso que vai ser remunerado, pelos anunciantes, assinantes, doações, financiamentos, o que quer que seja. Confiança, credibilidade, confiabilidade. É a única fórmula que temos pela frente.”

Alê Oliveira

Futuro da profissão em pauta
A programação do evento ainda tem um painel com Kyle Pope, editor da Columbia Journalism Review, Mônica Waldvogel, jornalista e apresentadora do Entre Aspas, da GloboNews, e Gilberto Dimenstein, editor do Catraca Livre, sob a mediação de Angela Pimenta, presidente do Projor (Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo).

A parte da tarde tem previsto um painel sobre cobertura jornalística de educação com Antônio Gois, presidente da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação), colunista do jornal O Globo, comentarista da rádio CBN e da TV Escola, e dos jornalistas especializados Fabio Takahashi, editor do Núcleo de Inteligência da Folha, e Sabine Righetti, responsável pelo RUF (Ranking Universitário da Folha).

Em seguida, participam do painel sobre cobertura jornalística de Meio Ambiente os jornalistas Daniela Chiaretti, repórter do Valor Econômico, Leão Sera, colunista da Folha e professor da ESPM, Vico Iasi, apresentador do Globo Rural, da TV Globo.