“Mães e pais no mundo todo estão preocupados com a influência das mídias na formação dos filhos. Crianças experimentam as novidades antes. Se você acha que estimulá-las e protegê-las é responsabilidade de todos, participe da nossa campanha”. Esse é o texto que abre o site Somos Todos Responsáveis, principal ação da campanha da Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade) para fomentar o debate da publicidade infantil no Brasil – alvo de muitas polêmicas e ameaças de restrição por parte do Congresso Nacional.

O canal, no ar há quase duas semanas e desenvolvido pela Medialogue, do jornalista Alexandre Secco, foi criado após uma análise de cerca de 20 mil referências por meio de pesquisa em mídias sociais. Segundo o jornalista, “já havia a percepção de que o ambiente de discussão era desfavorável e, às vezes, hostil”.

Presidente da Abap, Luiz Lara diz que a intenção da entidade é manter um diálogo sempre aberto com a sociedade civil, até porque “nós somos responsáveis pela evolução do conteúdo da comunicação”, diz. “A Abap preza pelo respeito à legislação brasileira e entende que o conjunto político formado pela Constituição brasileira, o Código de Defesa do Consumidor e o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária é mais do que suficiente para proteger os consumidores. E por isso, não apenas como profissionais de comunicação, mas também como pais, desenvolvemos esse portal com depoimentos importantes para o debate dessa questão”, afirma, lembrando que o site conta com declarações de profissionais de diversas áreas, como psicólogos, professores, publicitários, o Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, e pessoas que lidam com o universo infantil – caso do cartunista Maurício de Sousa e do músico Paulo Tatit, da banda Palavra Cantada.

Nesses depoimentos, Maurício, por exemplo, cobra o diálogo e o acompanhamento permanente dos pais, mas considera a publicidade infantil um canal de informação e sua proibição como algo nefasto. “Criaríamos uns zumbis, que andariam em fila sem pensar, sem aprender nada”. Já Paulo Tatit considera a propaganda dirigida a esse universo muito mais cuidadosa nos dias de hoje do que nos anos 70 e 80, e que uma lei de proibição acabaria com o debate da sociedade, importante nessa questão.

Também em depoimento ao site, um dos mais importantes publicitários brasileiros, Roberto Duailibi, sócio-diretor da DPZ, lembra que o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) existe justamente para coibir os excessos. “O órgão tem regras mais rígidas para a publicidade infantil do que para aquela voltada aos adultos. Proibir não adianta nada. Nós deveríamos proibir as proibições, porque se deixar eles proíbem tudo”, enfatiza.

Lara atenta para outro ponto importante: que é praticamente impossível banir a publicidade na era do conhecimento, mesmo entre as crianças, já que muitas delas estão conectadas ao mundo digital. “A propaganda, hoje, está em todo o lugar. No cinema, nas livrarias, nos ônibus, metrôs, elevadores, restaurantes, painéis eletrônicos de ruas e, principalmente, na internet. Banir a publicidade infantil na televisão seria como tentar colocar a criança dentro de uma redoma”, acredita, completando com o lema do site. “O caminho para se chegar a uma solução saudável passa pela discussão madura e democrática para mostrar que somos todos responsáveis pela educação de nossas crianças”.