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Trabalhar com foco nas necessidades de pessoas reais. Essa é, hoje, a essência do trabalho da estrategista criativa e designer de inovação Louisa Heinrich. Há quase quatro anos, ela fundou a Superhuman, que aborda aspectos humanos do futuro digital. A executiva conversou com o PROPMARK sobre a relação entre o humano e o digital, e como isso influencia as empresas. Confira a seguir trechos da entrevista.

Estrategista criativa
Essencialmente eu trabalho com meus clientes para alinhar a visão e os objetivos de seus negócios com as necessidades de pessoas reais – estendendo os princípios do design centrado no ser humano para negócios centrados no ser humano. Os projetos variam em magnitude: às vezes, é apenas planejar o produto ou projeto da organização; às vezes, é um alinhamento mais holístico da marca; às vezes, é a gestão completa, que inclui uma direção de criação mais hands-on. Mas, no fundo, está sempre a necessidade de conectar e alinhar o negócio com o cliente de uma forma significativa.

Digital X Humano
Eu acho que tudo é o equilíbrio sobre quem (ou o que) toma as decisões. A Inteligência Artificial pode ser muito útil, mas funciona melhor em sistemas fechados com regras fixas, como no xadrez. Quanto mais previsível for o ambiente, melhores serão as decisões. Mas no mundo real, o sistema não é fechado ou fixo. As pessoas são maravilhosamente inventivas e imprevisíveis, o que dificulta que a IA preveja o que faremos, queremos ou gostaremos. Há muitas coisas que podemos fazer melhor do que as máquinas.

Problemas reais
10% das pessoas no planeta Terra não têm acesso à água potável. A população global está crescendo mais rapidamente do que a nossa capacidade de fazer comida. A educação está escorregando. Esses são problemas reais, grandes. Não conseguir que seu sushi seja entregues às 23h de uma terça-feira não é um problema. É uma conveniência. O mundo da tecnologia e cena geral de startups está se concentrando desproporcionalmente nesses não-problemas. Isso ocorre porque, em parte, eles são muito mais simples e fáceis de enfrentar. Ao mesmo tempo, o mecanismo de investimento que impulsiona a cena das startups tende a valorizar projetos que podem alcançar resultados rápidos em detrimento daqueles que são longos e complexos e evitam coisas que parecem muito arriscadas. Creio que muitos de nós estão interessados em enfrentar os grandes problemas, mas todos nós precisamos ganhar a vida também. Se os problemas simples forem os que estiverem sendo financiados, é neles que a maioria de nós focará. Então, depois que ganharmos nosso dinheiro, talvez possamos passar para as questões complexas. Talvez um dos maiores problemas que temos seja encontrar o equilíbrio certo entre tecnologia, dinheiro e humanidade.

Primórios
Aprendi nos primórdios da era “.com” que, em primeiro lugar e acima de tudo, só porque você pode fazer uma coisa, não significa que deva fazê-la. Muitas empresas gastaram tanto dinheiro em produtos digitais ao longo dos anos – primeiro foram sites, depois aplicativos, agora adicionando conectividade a objetos físicos –, mas não trouxeram qualquer valor real ao seu negócio. Em segundo lugar, que apenas fazer algo que nós (a tecnologia e o design) entendemos e gostamos não é bom o suficiente: temos de fazer as coisas de um jeito que faça sentido para as pessoas na outra extremidade. Finalmente, aprendi que é mais fácil ficar entusiasmado com a tecnologia do que fazê-la funcionar. A tecnologia já melhorou as nossas vidas de muitas formas, mas também causou problemas significativos, especialmente sociais (vide a discussão em curso sobre o efeito das falsas notícias). A tecnologia muda e evolui rapidamente, mas nós, os humanos, demoramos mais para nos ajustar, a desenvolver habilidades sociais e estruturas para lidar com todas as mudanças. É importante que nós da comunidade tecnológica nos mantenhamos cientes dessa lacuna, para não nos encaixarmos coletivamente nela.

Relacionamento
Encontro clientes tentando pensar sobre o seu negócio de uma forma mais centrada no ser humano, porque eles veem o benefício de melhorar o relacionamento com seus clientes e querem trazer esse pensamento mais profundamente para a forma com que operam. Isso é brilhante e muito desafiador, especialmente para negócios que estão por aí há muito tempo. Mudar a forma como uma grande organização opera leva tempo e pode envolver muitas complicações imprevistas. Mas eu sinto que é necessário que as empresas se orientem em torno dos seres humanos (funcionários e clientes) para serem sustentáveis, e fico animada ao ver mais e mais organizações dispostas a se engajar nessa ideia.