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Kurt Cobain, Ian Curtis, Nick Drake, Torquato Neto, Chris Cornell, Keith Flint, Champignon. Esses músicos têm em comum a depressão e o suicídio. Todos os dias, 32 brasileiros tiram a própria vida. Em 2018, foram 11 mil vidas.

Segundo o Ministério da Saúde, os números também revelam que o suicídio aumentou 20% nos últimos cinco anos entre jovens de 15 a 19 anos. Essa já é a quarta causa mais frequente de morte entre jovens no País. Baseado nesses dados a agência Africa criou o Algoritmo da Vida, projeto assinado pela Rolling Stone Brasil.

O sistema funciona da seguinte maneira: foi desenvolvido um algoritmo capaz de identificar uma enorme variedade de palavras, expressões e frases que podem indicar sintomas de depressão nas postagens públicas dos usuários no Twitter. Após essa primeira fase de identificação da sequência de palavras e expressões, é realizada uma checagem cuidadosa por uma equipe treinada, para considerar contexto, ironias e recorrência de termos e periodicidade. 

Após isso, quando a ferramenta confirmar o potencial de usuário filtrado pelo algoritmo, um perfil criado especificamente para a ação – e administrado por um time capacitado – entra em contato por meio de mensagem privada e indica o telefone do Centro de Valorização da Vida (CVV), referência nacional no atendimento a pessoas com depressão.

“O desejo de tirar a própria vida é sempre ambíguo. A pessoa não sente que a vida vale a pena, mas gostaria de encontrar pelo menos um fio de esperança que a ajudasse a seguir em frente. Iniciativas como o Algoritmo da Vida são extremamente importantes por causa disso – saber que foi ouvido e que pode haver outra saída é transformador para um suicida potencial. Não tenho dúvidas que vidas serão salvas e sofrimento será poupado com a ajuda dessa ferramenta”, conta o psiquiatra Daniel Barros, professor da Faculdade de Medicina da USP e consultor do projeto.

“A Rolling Stone, como um veículo voltado à cultura pop e, principalmente, música, lida todos os dias com a depressão ou seus sintomas. E isso é alarmante”, diz Pedro Antunes, editor-chefe da Rolling Stone Brasil. “Muitos músicos pediram ajuda nas suas músicas. Veja o caso de Kurt Cobain ou de Chester Bennington, do Linkin Park, por exemplo. Vidas chegaram ao fim de forma precoce por conta da depressão, basta lembrar de Chris Cornell. Tudo o que pudermos fazer para diminuir esse número precisa ser nossa prioridade. É uma responsabilidade social que devemos ter. Cada vida salva é uma vitória”, completa.

De acordo com Rodrigo Cassino, COO da Bizsys – produtora de tecnologia responsável por desenvolver o sistema que identifica os tweets relacionados com depressão -, a maioria das postagens identificadas têm um padrão comum. “Com tantos recursos tecnológicos a nossa disposição e com tantas pessoas clamando por socorro nas entrelinhas das redes sociais o desenvolvimento do Algoritmo da Vida humaniza a tecnologia e nos passa um sentimento de dever cumprido, de ajuda ao próximo”, completou Cassino.

O Algoritmo da Vida está em operação desde fevereiro e detectou quase 300 mil menções que potencialmente utilizam a linguagem da depressão. O perfil já entrou em contato com esses usuários e indicou a melhor maneira de ajudá-los a encontrarem apoio profissional. Um deles, referência sobre o tema, é o CVV (ligue 188).

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