Uma pesquisa de 2018 da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), realizada pela startup Spry, revelou dados sobre a relação de diferentes gerações com os distintos modais presentes em 11 capitais brasileiras.

 

O carro ainda é unanimidade entre os baby boomers (38%) de 56 anos ou mais. E entre a geração X – 36 a 55 anos –, 42% também afirmaram preferir o carro para se locomover. Na geração Y, que compreende pessoas entre 26 e 35 anos, 41% também elegem o carro como modal favorito. E até mesmo entre os mais novos, da geração Z – com idade até 25 anos – o automóvel é o meio de transporte predileto (40%).

 

Os dados reforçam o estudo global “Futuro do Transporte: mobilidade na era da megacidade”, realizado pela Visa em fevereiro, que aponta o carro particular como o principal meio de transporte para ida e volta ao trabalho ou escola (60%) e viagens pessoais (61%).

 

Ambas pesquisas demonstram que a geração Z é a que menos possui veículos próprios. O que pode ser explicado, segundo o relatório da Visa, pelo alto valor dos automóveis, dos seguros, pelo declínio global de renda desse público e outros fatores como a preocupação com o meio ambiente e o adiamento na constituição de famílias.

 

O congestionamento das megalópoles também aparece como um desestimulante na compra de carros. Esses fatores abrem espaço para a crescente demanda e oferta de aplicativos de compartilhamento de automóveis e transporte individual privado.

 

“Desvincular a mobilidade das pessoas da propriedade de um carro será crucial para oferecer uma alternativa a esse quadro. Ao lado de especialistas no assunto, acreditamos que o futuro da mobilidade urbana será compartilhado em vários modos, centrado no transporte público e complementado por bicicletas compartilhadas, serviços sob demanda como Uber e táxis, assim como outras soluções que ainda estão por surgir no ambiente de inovação digital”, diz Fabio Sabba, diretor de comunicação da Uber.

 

Compartilhamento

Segundo levantamento divulgado em abril pelo IBGE, há 13,4 milhões de pessoas desempregadas no Brasil. A instabilidade econômica, aliada ao avanço tecnológico, em parte, explica o sucesso dos aplicativos de carona e compartilhamento de carros nos grandes centros. 

 

Hoje, boa parte dos 600 mil motoristas parceiros da Uber no país aderiram à plataforma como complemento de renda ou por terem sido desligados de seus empregos formais. Uma possível melhora na economia, no entanto, não ameaça os planos da multinacional.

 

“Conforme a economia vai aquecendo é normal que as pessoas vão para outras áreas, ao mesmo tempo, você tem na plataforma uma gama muito grande de possibilidades de ganho”, aponta Sabba.

 

A Cabify, que pertence ao grupo Maxi Mobility, controlador da Easy Táxi, investe na capacitação e formação dos motoristas para que tenham poder de voltar, ou não, ao mercado formal. “Temos parcerias com escolas de idiomas, de desenvolvimento web e, entre outras, para que encontrem um novo emprego”, diz Nicolas Scridelli, head of alliances na Cabify.

 

Uberização

Fundada em 2010, a Uber é responsável pelo fenômeno mundial intitulado “uberização” das relações econômicas, ou seja, a alteração na forma como intermediários gerenciam seus negócios. De lá para cá, o mercado se viu diante da explosão de aplicativos com soluções similares às da empresa.

 

“Vemos a concorrência como algo positivo, já que permite ao usuário e ao motorista terem mais escolhas sobre como se locomover pelas cidades e gerar renda. Para encarar o desafio da mobilidade nas grandes cidades, é preciso oferecer uma gama cada vez mais ampla de opções de transporte às pessoas, além de investir em tecnologia para oferecer um sistema mais eficiente para o usuário. Essa movimentação entre os atuais players de mobilidade demonstra o grande potencial do mercado brasileiro”, defende Sabba.

 

Em maio, a Uber abriu capital na bolsa e chegou a Wall Street com valor de mercado de 82,4 bilhões de dólares. Os títulos da Oferta Pública Inicial (IPO) fecharam o primeiro dia em queda de 8% com relação ao preço fixado em 45 dólares. No mesmo dia, parte dos motoristas que utilizam a plataforma aderiu a uma paralisação global dos serviços.

Eles reivindicam maior transparência da empresa na tomada de decisões relacionadas às tarifas e à segurança. Desde abril, a Uber passou a mostrar aos motoristas parceiros do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, antes do início da viagem, a região do destino final da próxima rota e sinalizar se o usuário que fez a solicitação tiver poucas viagens no aplicativo. A medida é uma resposta da empresa às questões levantadas pelos motoristas.

 

Recentemente, a empresa anunciou também um novo serviço, que tem como objetivo possibilitar ao motorista mais uma fonte de renda. A ideia é que eles possam intermediar a venda de alimentos, bebidas e produtos de uso pessoal durante as viagens pelo app. A iniciativa foi firmada entre a plataforma, o Posto Ipiranga e a Cargo Box, parceira exclusiva da Uber nos EUA desde 2018, que, agora, faz sua primeira expansão internacional. A princípio, a novidade está disponível apenas para o Uber Black, mas a expectativa é de que haja expansão para outras categorias ainda neste semestre.

 

Adquirida em janeiro de 2018 pela chinesa Didi Chuxing, uma das maiores companhias de mobilidade do mundo, a 99 foi a primeira empresa nascida no Brasil como startup a ser avaliada em mais de US$ 1 bilhão. O aplicativo conecta mais de 600 mil motoristas a 18 milhões de passageiros em mais de mil cidades no país.

 

“O fato de as pessoas estarem abandonando o carro próprio torna a cidade mais multimodal. Os próprios dados da 99 demonstram que boa parte das nossas corridas começa ou termina em estações de metrô e trem ou em terminais de ônibus. Esse número chega a 15% em São Paulo e 25% no Rio de Janeiro”, aponta Stella Brant, diretora de marketing da 99.

 

“As cidades devem possibilitar essa integração, permitindo que os usuários se desloquem com agilidade e segurança. Na cidade do futuro, o cidadão não estará preso a um modal, ele não está preocupado se vai ter vaga ou trânsito, mas sim como ele quer chegar ao destino”, diz.

 

A startup oferece três tipos de serviços em sua plataforma: 99Pop, categoria de carros particulares presentes em mais de 40 regiões metropolitanas e grandes cidades; 99Taxi, que cobre o Brasil; e 99Top, serviço de táxis de luxo oferecido em São Paulo.

 

Em abril, a empresa lançou no Recife o Somos 99, um programa de relacionamento voltado para os motoristas que operam o aplicativo. Nele está disponível uma série de capacitações relacionadas a finanças, saúde e educação. A estratégia da empresa é fidelizar os motoristas – que são os mesmos da Uber, em sua grande maioria –, em mais uma etapa da arrumação necessária para a legalização dos apps na capital pernambucana.

 

Já a Cabify dá os primeiros passos para a implantação do MaaS – Mobility as a Service, combinação de transporte público com prestadores privados de serviços de mobilidade em uma plataforma única. O primeiro programa é chamado de solicitação cruzada ou cross request. “A implantação do projeto de integração está ocorrendo progressivamente nas cidades e países”, diz Scridelli, da Cabify.

 

“O investimento recente na Movo, plataforma de micromobilidade, é um exemplo. A Movo vai alavancar a trajetória já construída pela Cabify na América Latina, marcando presença no México, Colômbia, Peru e Chile, além da Espanha, com 20 mil patinetes elétricos com autonomia de 35 km, que estão sendo implantados. Já em relação ao Brasil, a Cabify estuda trazer a plataforma e seus patinetes elétricos no médio prazo”, defende.

 

Mulheres

 Em 2016, surgiu, em Porto Alegre, a Venuxx, serviço direcionado exclusivamente ao público feminino. Em pouco mais de dois anos, o Banco BMG e o fundo de investimentos Bossa Nova fizeram um aporte na startup, possibilitando a expansão dos negócios para Belo Horizonte e São Paulo.

 

A empresa adota uma política agressiva de remuneração e fixa o valor da taxa da corrida em R$ 1,00, enquanto as demais variam seus encargos entre 15% e 25% do valor total da corrida para as parceiras. A empresa tem mais de 6.500 motoristas parceiros. Em seu mix, a empresa pretende passar a disponibilizar mais do que “corridas entre o ponto A e o ponto B”, conforme afirma o CEO da Venuxx, Diogo Della Gomes.