Na semana passada ocorreu o Dia da Consciência Negra. Houve comemoração, mas também muita lamentação. Organizações e grupos ligados aos movimentos contra o preconceito e à valorização da cultura afrodescendente se manifestaram, mas o lamento e o protesto prevaleceram.

Não tenho conhecimento para conclusões relacionadas a esse tema, mas a mim me parece que houve um grande avanço no respeito e na valorização do negro na sociedade. Mais do que para cumprir uma exigência sob aspecto legal, parece que o respeito e a presença de afrodescendentes cresceram naturalmente nos últimos anos.

Nas campanhas publicitárias, é sensível o aumento da presença de negros. E o que se nota é que tal fato não ocorre apenas para cumprir cotas, mas porque a diversidade é bonita. Black is beautiful! Definitivamente, black está na moda.

E para corroborar isso, tivemos, também na semana passada, a esperada Black Friday. Uma data promocional importada dos EUA, mas ampla e crescentemente adotada no Brasil.

Aliás, por aqui, a Black Friday acabou virando Black Week, Black Month, Pré Black Friday & Pós Black Friday. Foi promoção para todo os gostos.

Até uma surpreendente adesão de um grande banco – o Santander – que fez promoções ao estilo do varejo mais agressivo. O que se percebe é que a cada ano aumenta o número de setores que aderem à data promocional.

Este ano vimos de tudo: de farmácia a grife importada; de automóveis a turismo. Além, logicamente, do varejo tradicional e, principalmente, de eletrônicos e do e-commerce.

Todo mundo pegando carona na onda black. Se a cor era usada para definir uma situação ruim (a situação está preta), ela agora marca um momento bom, de ofertas promocionais.

A origem do termo é nebulosa. Para alguns, a expressão surgiu na Philadelphia (EUA), onde a polícia local costumava chamar a sexta-feira após o Thanksgiving Day de “negra”, em função do aumento de trânsito e de problemas decorrentes do dia seguinte do feriado.

Outros dizem que a data marca a virada do comércio, que sai do “vermelho” para o “preto” no seu balanço. Ou seja, as vendas da Black Friday embalam as de Natal, proporcionando um bom momento para o comércio.

Seja qual for a sua origem, o fato é que o que mais se viu nos últimos dias (ou semanas) foi o “black” estampado nas vitrines e nas campanhas promocionais. E extrapolando a data em si. O ano esteve tão ruim para alguns segmentos do varejo, que, se pudessem, alguns lojistas não fariam apenas uma Black Friday, mas, isso sim, um Black Year, com promoções sem parar.

Na verdade, em tempos bicudos como os que temos passado, o varejo, mais do que nunca, se apoia em datas promocionais para alavancar suas vendas. Não duvido nada se tivermos – logo logo – o Dia do Solteiro bombando aqui no Brasil também.

Comemorada também no mês de novembro, a data – 11 de novembro – já supera a Black Friday e a Cyber Monday em vendas na China. A megaplataforma de e-commerce Alibaba declarou ter superado a marca de US$ 1,5 bilhão só na primeira hora de vendas. Estima-se que a data tenha gerado mais de US$ 20 bilhões em vendas só na China.

Uma jogada genial de um país que, até então, se notabilizava mais por copiar do que por criar. Mas, voltando ao tema central deste artigo (desculpe-me a divagação), a cor negra tem sido usada em situações antagônicas: por um lado, está atrelada ao medo, ao luto, ao mistério; por outro, está ligada à sofisticação, à diversão e, por que não, à beleza.

A Coca-Cola acabou “pintando” o Natal de vermelho e branco, quando encomendou ao ilustrador Norman Rockwell, lá pelos idos de 1930, uma representação do Santa Claus nas cores predominantes da marca de refrigerantes. Mas, para o comércio, bem que o Natal deste ano poderia ser um Black Christmas, cheio de promoções e boas vendas.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências
de Propaganda) (alexis@fenapro.org.br)