Não precisavam disso. Não têm mais onde colocar dinheiro. Nem conseguem se lembrar de tantas vitórias ainda que, muitas, de valor discutível. Por que tanta crueldade e indiferença com a Benjamin? Com o Benjamin?

Certamente “vão comer o pão que o diabo – não o Benjamin – amassou”. Confiro no site dos Significados: “A expressão foi criada no sentido de representar através de um pão amassado por uma entidade sobrenatural da maldade, todas as consequências malignas passadas pelo indivíduo, em algum momento de sua vida”. No caso, de suas vidas.

Na relação de sonhos defenestrados por investidores gananciosos, agora um novo capítulo. Um triste “case”, uma lamentável história. Que Jorge Paulo Lemann prossiga em sua sanha devastadora, tudo bem, mas que Abilio Diniz tenha caído nessa, depois de todo o sofrimento público mais as situações de constrangimentos a que se submeteu na tentativa de resgatar seu Pão de Açúcar junto ao Grupo Casino é inimaginável, impensável, injustificável.

Dia 26 de agosto 2015, UOL, Economia: “Jorge Paulo Lemann e Abílio Diniz agora são parceiros de negócio. Fundos criados pelos bilionários compraram uma fatia na rede de padarias Benjamin Abrahão, em São Paulo. O negócio foi feito por meio de uma parceria entre o fundo Península (Abílio) e Ocean e Inovva Capital (Lemann). Não foi informado o valor de transação. Benjamin Abrahão nasceu na cidade de Franca, dia 9 de janeiro de 1925. Aos 10 anos, virou auxiliar de confeiteiro na Padaria Ivone. Mais adiante, depois de servir ao Exército, volta à Padaria Ivone. Nas horas vagas, para complementar a renda, engraxate. Aos 19 anos muda-se para Ponta Porã. Abre uma petisqueira de doces e salgados. Na frente, o Bar e Restaurante Royal, de Maria Luiza, espanhola. Depois de muita briga pela clientela casam-se. Volta para São Paulo, Barra Funda. Passa a fazer doces e salgados que vende numa banca de feira. Juntam dinheiro e abrem A Espanhola.

Mais adiante, 1976, a Padaria Barcelona, na Praça Vilaboim, cidade de São Paulo, e consagra-se como o grande padeiro do Brasil. Passa a frequentar jornais, revistas, programas de televisão. Em poucos anos eram 10 unidades na cidade de São Paulo. Benjamin vira celebridade, instituição e referência nacional em termos de padaria de excepcional qualidade. Benjamin Abrahão morre em 2001, e é sucedido pelo neto Felipe Benjamin. Felipe é recebido com carinho e passa a merecer toda atenção e apreço dos milhares de fãs e amigos de seu avô”.

Dia 9 de agosto de 2017. Valor: “Planejada com a intenção de ser a maior rede nacional de padarias, A Rede Benjamin, dos sócios Abilio Diniz e Jorge Paulo Lemann, faz ajustes em seu plano de negócio. Define novos modelos que se afastam de padaria tradicional. Franquias podem ser abertas… No layout criado, o nome Benjamin é destaque e a assinatura Padaria fica abaixo…”.

No final da matéria a informação, “a família fundadora, de Benjamin Abrahão, saiu do negócio há meses. Também deixou a empresa Felipe Abrahão, neto do fundador, que atuava na produção desde a morte de seu avo”. Que porra de negócio Jorge Paulo e Abílio fizeram! Não era melhor, por exemplo, Abílio ter ressuscitado a Doceira Pão de Açúcar, onde tudo começou para e com a família Diniz, do que matar a Benjamin Abrahão? Fazer Benjamin ter a sua segunda morte? Que merda! Triste num país de poucas marcas de excepcional qualidade, constatar-se o prevalecimento de empresários BrandKillers, ou melhor, BreadKillers, que não dão a mínima para a narrativa e revelam comportamento reprovável, inconsequente, fútil. E, em meu entendimento, criminoso. Detonando o já mirrado patrimônio das marcas genuinamente brasileiras.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)