O Cannes Lions mudou. Não há mudança sem risco, não há inovação sem que alguns corpos fiquem pelo caminho. Sem desprendimento e desapego, nada muda. Na essência, acredito que o saldo foi positivo. E um dos sinalizadores disso é que o evento deixou de ser passível de resumo em uma frase, tendência ou mensagem.

A diversidade imperou nos temas, muitas discussões importantes ocorreram ao mesmo tempo, e os papos do Palais II e do “off-Palais” se mostraram mais interessantes e atraentes do que nunca.

Portanto, nada de resumos simplistas, nada de blá-blá-blá conceitual. Cannes se abriu para muitos e muitos temas, agradou a gregos, troianos, espartanos e quem mais entrou no barco, e desagradou outros tantos, claro.

No caldeirão de mudanças, os Leões não perderam a majestade, e continuam no centro das atenções. Este segue como uma das riquezas do festival: o trabalho criativo.

Talvez algumas pessoas quase se esqueçam disso, circulando de palestra em palestra, mas conhecer os trabalhos premiados ainda é um dos grandes baratos do Cannes Lions. Muitos, muitos deles, representam, sim, a materialização do falatório dos palcos do festival.

No fim do dia, o que importa é o trabalho, porque os discursos bonitos se perdem no vazio. Cannes tem na sua essência histórica a celebração de ideias mobilizadoras.

O cenário é cada vez mais interessante, na medida em que marcas se inserem cada vez mais na cultura e na conversa das ruas, no dia a dia e na vida das pessoas procurando fazer alguma diferença. O que a nossa indústria faz de mais valioso, hoje, é auxiliar marcas a obterem justamente isso: relevância no mundo.

Na abertura do festival, David Droga contou um pouco da sua história e sobre as escolhas que fez em uma quebrada ou outra da vida. Ao final da jornada, o que ficou claro é que, depois de tanto trabalhar, talvez a escolha mais importante tenha sido a de não enganar a si mesmo na profissão, perseguindo incansavelmente o objetivo de fazer o melhor trabalho possível.

É um compromisso que permeia dos primeiros trabalhos ao mais recente, o filme de quatro minutos dedicado a divulgar o leilão do “último Da Vinci”, o quadro Salvator Mundi, de Leonardo Da Vinci.

Ao colocar câmeras atrás de uma obra de arte e captar as reações mais autênticas das pessoas, o resultado é constrangedoramente simples, e emocionante porque é real e humano. É bonito pacas. O resultado é seu “Da Vinci particular”, porque embora reconheça que nunca produzirá um Da Vinci, ele não se cansa de continuar tentando. E isso o move para frente.

Depois de tantas novidades neste Cannes Lions, ficam os bons trabalhos. Se você não viu o que virou Leão este ano, procure conhecer o que foi premiado, começando pelos Grand Prix de cada categoria.

Esqueça conceitos, rótulos, caixinhas, tendências, molduras, e apenas aproveite a viagem pela via da emoção. Vale a pena. E até ano que vem!

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