O descrédito nas instituições políticas e as incertezas do cenário econômico têm influenciado diretamente a percepção do brasileiro em relação às marcas. Não à toa, grifes de luxo estrangeiras têm ganhado preferência do público. Essa é a leitura de Paulo Secches, presidente da consultoria Officina Sophia, responsável pelo ranking Marcas mais amadas do Brasil 2017.

O levantamento realizado em parceria com o Centro de Inteligência Padrão (CIP) avalia quais marcas têm conseguido construir relacionamentos mais sólidos com o consumidor, levando não só sua preferência, mas admiração e amor de marca. Nesta edição, Nestlé lidera o top 10, seguida por Swarovski (2º), Louis Vuitton (3º), Victor Hugo (4º), Sadia (5º), Havaianas/Ferrari (6º), Nike (7º), Lamborghini/Marc Jacobs (8º), MAC (9º) e Adidas/Harley-Davidson (10º). 

“Estamos vivendo uma fase de autoestima extremamente baixa. É como se a gente estivesse projetando para marcas internacionais de luxo esse amor. Admiramos nos outros o que a gente tem vergonha de ver por aqui”, destaca Secches. Desde 2013, há uma crescente na popularidade das marcas de grife. Na época, 33% das marcas mais amadas eram de luxo. Hoje, elas ocupam 47% delas.

Sjoerd van der Wal

O especialista ressalta ainda que os números refletem a forma como as pessoas percebem o país e que esse cenário pode mudar. “Estamos de certa forma envergonhados dessa situação. Quando ocorrer o resgate desse orgulho de ser brasileiro, as marcas brasileiras poderão aparecer melhor no ranking”.

O levantamento é realizado há cinco anos, e nesta edição, analisou as respostas dos consumidores tendo como base cinco critérios: ‘feita para mim’ (capacidade de personificação da marca para cada consumidor); ‘conexão emocional do indivíduo com a marca humana’ (capacidade de humanização da marca); ‘qualidade do produto e identidade aspiracional’ (o que a marca ajuda a pessoa a parecer ser, mesmo que ela não seja).

Para Jacques Meir, especialista em consumo e diretor executivo do Grupo Padrão, a diversidade de produtos oferecidos pelas marcas de luxo contribuiu para o aumento de sua popularidade. Segundo o executivo, grifes internacionais representam ícones do que as pessoas valorizam e a medida que elas oferecem um mix de produtos, oferece ao consumidor a sensação de que a marca foi feita para atendê-lo.

“Pouquíssimas pessoas podem comprar uma Ferrari, por exemplo, mas a marca criou uma linha de moda, perfumes, outros itens oficiais que remetem a posse do automóvel. Com a essa pluralidade, a marca universaliza sua imagem e se torna mais próxima das pessoas, ou seja, esse aspiracional passa a ser mais palpável”.

O especialista explica ainda que as marcas mais amadas têm em comum alguns fatores. Todas trabalham com bens de consumo, além de criar o efeito de compensação e segurança diante de momentos diversos. “Elas criam mitos em torno de si mesmas. Têm capacidade de atravessar gerações com uma percepção de qualidade. O consumidor sabe que o produto será superior. Trazem também conexão emocional e capacidade de gerar admiração. São marcas de autoexpressão”.