Tim Wu é professor da Columbia Law School. Escreve regularmente para a revista New Yorker. E suas contribuições para a desintoxicação do ambiente corporativo, mais que relevantes, têm merecido o reconhecimento de diferentes instituições. Seu livro The Master Switch, publicado no Brasil como Impérios da Comunicação, foi considerado como um dos dez melhores de 2010, pela New Yorker e Fortune. Assim, existia uma grande expectativa sobre os seus comentários e manifestações a respeito da grave crise de credibilidade por que passa a maior e mais importante rede social do mundo, o Facebook. E sua manifestação veio através do artigo publicado pelo The Guardian.

No original, o título do artigo é Don’t fix Facebook, replace it. Em português, como Claudia Bozzo traduziu para o Estadão: Não dê um jeito no Facebook. Substitua-o. Segundo Tim, os depoimentos de Mark Zuckerberg perante o Congresso Americano não adiantaram nada. A essas alturas e com descomunais rombos em seus cascos, essa pergunta é irrelevante. A pergunta que todos temos de fazer é: O que virá depois do “Feice”? É mais que chegada a hora de uma nova geração de redes sociais, afirma. E, a menos que se proceda uma radical revisão na liderança do “Feice”, a maior rede social da história está definitiva e irreversivelmente contaminada por sua gênese e DNA.

“Toda empresa tem seu DNA fundador. Uma real mudança corporativa é uma raridade. Muito especialmente se os mesmos líderes que forjaram o DNA permanecerem no comando. E Zuck não abre mão do comando. Por decorrência, desde a primeira movimentação do “Feice” em busca de receitas, colocou como prioridade o crescimento acelerado maximizando o processo de coleta de dados…”. Ou seja, quanto mais dados de cada um dos integrantes da rede, maiores e melhores as possibilidades de monetização. E foi o que ocorreu com aquele que hoje é dos mais exuberantes e jovens bilionários do mundo. “A rede social em si não está desaparecendo” – afirma Tim. “Entrou em nossas vidas e veio atender à necessidade que todos temos de nos conectar… o concorrente ou sucessor ideal do “Feice” seria uma plataforma que elegesse como prioridade zero, como propósito essencial, aproximar pessoas e possibilitar a construção de relacionamentos… e tudo o que aprendemos e hoje se escancara com as redes, muito especialmente com o “Feice”, é que modelos de publicidade e captação de dados são incompatíveis com uma rede social confiável”.

Isso posto, concluindo: hoje todos acreditam que mesmo debilitado e ferido, mesmo submetendo-se a um compliance mais rigoroso, o “Feice” seguirá em frente. E, como vem fazendo de rotina, comprará todos os próximos e possíveis concorrentes que coloquem em risco sua supremacia. Diante dessa realidade, Tim defende a constituição de uma rede social universal, pública e sem fins lucrativos, e à semelhança da Wikipédia. Que se mantém com a contribuição voluntária de milhões de pessoas de todos os países. E onde todas as pessoas poderiam apoiar com uma pequena mensalidade simbólica, mas o suficiente para preservá-la íntegra, forte, saudável e infensa a todas as tentações que impregnam de toxidade o ambiente digital.

De nada adianta continuarmos usando os serviços e préstimos dos deuses Facebook e Google, se continuarmos acreditando que existe “almoço grátis”. Está mais que na hora de colocarmos a mão no bolso e construirmos uma rede social, pública, universal, que resgate e reafirme os mesmos ideais e princípios que orientaram uma comunidade de cientistas a criar num abençoado dia a www, a rede mundial de computadores.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)

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