Alê Oliveira

A executiva Cris Duclos, afastada da diretoria de imagem e comunicação da marca Vivo há cerca de três meses, ingressou com um processo contra a empresa nesta última terça-feira (13) na 33ª Vara de Trabalho, em São Paulo.  O desligamento da executiva foi acompanhado de uma onda de especulações com acusações de atividades irregulares em contratos da área de marketing ligada à Vivo.

Cris Duclos reivindica no pedido, com orientação do advogado Antonio Carlos Aguiar, do escritório Peixoto e Cury, a reintegração do seu emprego e abertura de uma sindicância para identificar as prováveis irregularidades na área de marketing do anunciante. 

Ela deixou a operadora de serviços de telecomunicações no último dia 9 de junho, após oito anos na empresa, por iniciativa do empregador que, segundo ela, não externou nenhuma motivação relacionada a qualquer tipo de fraude na sua área, apenas uma reestruturação interna já prevista. A Telefônica, que controla a Vivo, assumiu na demissão os encargos do distrato com base na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Ainda segundo Cris, a Vivo não fez objeção à opção de compra do automóvel que usava na empresa.

Com sua imagem comprometida, Cris quer com a iniciativa judicial que a Telefônica abra os documentos internos que poderiam comprovar seu envolvimento com atividades ilícitas que teriam sido detectadas por uma auditoria na área solicitada pelo atual presidente da empresa, Amos Genish. Questionada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) diante do noticiário que deu conta desse procedimento e que apontava Cris Duclos como pivô de desvios de até R$ 27 milhões e compra de imóveis como uma propriedade na Fazenda Boa Vista, no interior de São Paulo, a empresa negou que tivesse feito sindicância para apurar as irregularidades identificadas e apontadas no noticiário (blogs, rádios TVs e sites apontaram Cris Duclos como pivô do problema).

A reação passiva da Telefônica de não retrucar as informações veiculadas nos canais de mídia teve impacto sintomático na carreira de Cris Duclos. Em entrevista ao PROPMARK, a executiva  relatou na tarde desta quarta-feira (14),  que reivindicava uma promoção para a posição de vice-presidente com o Christian Gebara, seu superior na empresa. No último mês de maio recebeu a notícia, nas suas palavras, de que o empregador tinha outros planos e que ela não fazia mais parte do projeto.

Representante brasileira no júri da competição Creative Effectiveness Lions do Festival Internacional de Criatividade de 2016, em Cannes, Cris tentou negociar sua saída para uma data posterior à sua  participação no evento para o qual  foi indicada e atuou, como representante da Vivo, pedido que lhe foi negado.

Após a onda de especulações sobre seu desligamento da Vivo,  Cris passou a viver um inferno astral que comprometeu a negociação que estava mantendo com um novo empregador. O headhunter lhe informou que diante do cenário não teria como prosseguir a negociação. Cris não revela o nome da empresa, mas diz que tem a confiança de retomar a conversa após o desfecho do caso.

O imbróglio também envolveu seu marido, Ricardo Chester, um profissional de criação da publicidade brasileira. No auge das especulações envolvendo Cris Duclos,  ele estava na equipe de criação da AlmapBBDO após passagem pela Africa. Estava de férias quando foi informado por um colega de agência sobre o “boato”. Ele foi citado pelas fontes dos jornalistas como o agente que emitia as notas fiscais de comissões ilícitas.

Chester nega e exibe as notas fiscais emitidas contra a agências e os recibos de depósitos do seu pró-labore. Marido de Cris Duclos, Chester também fez questão de apresentar ao PROPMARK o contrato de compra de um terreno de três mil metros quadrados na Fazenda Boavista que custou R$ 1,6 milhão. Chester pediu uma licença da AlmapBBDO, mas retornou ao trabalho no último dia 10.

“Vou reaver o cargo para que a empresa explique com todas as linhas se a auditoria existiu ou não. Tornarei transparente também os contratos com as agências de propaganda. Tenho certeza que as agências não têm nada a esconder. Só assim terei de volta minha reputação e a do meu marido, vítima também dessa situação”, disse Cris no comunicado à imprensa elaborado pela Giusti Comunicação, do empresário Edson Giusti, que está coordenando a gestão da crise.

O advogado Antonio Carlos Aguiar, com base no artigo 5º da Constituição Federal no inciso XIV, também explicou no comunicado que “todo e qualquer tipo de ataque ao patrimônio jurídico do cidadão somente pode ser levado a efeito após lhe ser fraqueado o direito de defesa”. Cris Duclos e Ricardo Chester também contrataram a auditoria financeira Grant Thornton para uma análise dos seus ganhos nos últimos cinco anos.

Consultada, a Telefônica disse que ainda não foi notificada e que, portanto, não poderia se manifestar.