Marçal Neto

A piora do momento econômico do Brasil pode trazer consequências diretas no desempenho da publicidade brasileira neste próximo Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions, que vai acontecer entre 18 e 25 de junho. Um ano após conquistar o primeiro Grand Prix de filme da história, que veio depois de 62 edições da premiação, a expectativa para este ano é que o país não chegue a tanto. Longe de significar uma falta de confiança na qualidade da publicidade nacional, o principal motivo para a falta de otimismo é a crise que tem inibido a ousadia dos maiores anunciantes. 

De acordo com o presidente da Apro (Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais), Paulo Schmidt, o cenário político e econômico do país está desfavorável para que a criatividade brasileira aflore e conquiste os grandes prêmios do festival, ao menos nas categorias de filmes – Film e Film Craft. “A medida que os anunciantes estão arriscando menos e priorizando mais a comunicação de varejo, as possibilidades de ter peças altamente criativas capazes de performar em grandes festivais são menores”, acredita. 

Apesar de elogiar a capacidade de agências e produtoras brasileiras de criar grandes trabalhos com orçamentos nem sempre adequados, Schmidt avalia que ainda não surgiu nenhum filme publicitário do país que se mostre em condições de igualar os resultados do ano passado, quando “100”, produzido pela Stink São Paulo para a Leica em campanha da F/Nazca Saatchi & Saatchi, conquistou o GP de Film e impulsionou a performance em Film Craft com mais dois Leões de ouro e três de prata. “No ano passado, a esta altura, já víamos o filme da Stink performando em outros festivais. Este ano não temos visto nada tão relevante nesse sentido. Mas reforço que isso tem muito a ver com o momento do Brasil”. 

Independentemente do que aconteça na Riviera francesa, porém, o presidente da Apro garante que a produção brasileira vem em um histórico crescente e ressalta que iniciativas de incentivo como o projeto Film Brazil, criado e liderado pela associação há 10 anos, têm contribuído ao longo do tempo para que exista um reconhecimento internacional das produtoras brasileiras. “Lógico que não há nada mais chamativo do que um Grand Prix que representa uma verdadeira chancela que faz o mundo olhar pra gente de forma diferente. O exemplo é que a Stink virou a página e hoje é chamada para diversos trabalhos internacionais. No entanto, isso também faz parte de um processo de crescimento da nossa indústria”, analisa. 

Para Schmidt, os grandes prêmios da área devem aparecer no momento em que o país inicie sua recuperação econômica e tenha mais investimentos e abertura para campanhas conceituais.  “Ainda temos algumas deficiências na produção porque não contamos com o mesmo volume da indústria americana, por exemplo, mas a qualidade da produção brasileira já vem sendo reconhecida há anos com a credencial para atender qualquer player internacional”.