Os talentos, virtudes e aptidões que uma pessoa demonstra ter para determinado tipo de atividade, não necessariamente a credenciam a alcançar sucesso semelhante ou próximo em outra atividade. O esporte tem nos trazido infinitos exemplos. Semanas atrás Boris Becker, campeão e lenda do tênis, teve sua falência decretada. E ainda outro dia era possível vê-lo nas quadras como treinador de Novak Djokovic. Outro craque, Muller, bicampeão mundial de clubes, que vestiu a camisa dos quatro principais times de São Paulo, até outro dia morava de favor por ter literalmente quebrado. Morava com Pavão, seu ex-companheiro do tempo de São Paulo.

O lateral Roberto Carlos, ex-seleção e ex-Real Madrid, no dia 31 de agosto passado, teve a sua prisão decretada por atraso na pensão alimentar de dois de seus nove filhos… A relação é infindável. Há poucos dias quem ocupava as manchetes era o ex-craque do Corinthians Marcelinho Carioca, que vem utilizando um laranja para escapar de uma dívida.

Mas quero me concentrar num drama que muitos brasileiros acompanham com atenção, torcendo para que, de alguma forma, acabe se resolvendo e envolve um dos maiores ídolos da história do esporte de nosso país. Nas pistas era rápido, preciso, decidido, perfeito, eficaz. Nos negócios, um desastre.

Sua importância na história do esporte brasileiro, muito especialmente do automobilismo, é fantástica, não só por seu desempenho, como por ter aberto a passagem para outros importantes esportistas. Como não sabia que era impossível foi lá e fez; e venceu! E conquistou! Como nos ensina Milton Berle.

Emerson Fittipaldi! Sua história é espetacular e emocionante. Vendeu tudo o que tinha, comprou uma Fórmula Ford, trabalhou como operário em fábrica de cabeçotes, polindo peças para poder ter um motor. Morava em uma pensão na Inglaterra, pagando 12 libras por semana. O supostamente impossível aconteceu. No dia 13 de julho de 1969, estreou na Fórmula 3. Fez teste e tornou-se o primeiro piloto da Lotus em 1970. Dois anos depois sagrava-se campeão mundial da Fórmula 1 pela Lotus, e bi, em 1974, pela McLaren.

Sem Emerson não existiriam Piquet e Senna. E, depois, Barrichello e Massa, e todos os demais pilotos brasileiros. Lemyr Martins, jornalista e fotógrafo, acompanhou, documentou e registrou toda sua história. E sintetiza, em Época Negócios de setembro/2017, a ruína do empresário Emerson: “Emerson Fittipaldi carrega uma dívida milionária”. Nega estar falido e tenta encontrar soluções para dar a volta por cima. O problema, diz Lemyr, “é que não há mais pistas para contornar a derrapagem financeira”. O piloto, um craque definitivo e legendário. O empresário, um desastre. Decidiu construir um carro com seu irmão – o Skol–Fittipaldi F-7 –, nada. Plantou laranjas em Araraquara, fabricou lanchas nos Estados Unidos, volantes na Itália, moda no Brasil – grife Hugo Boss – e nada deu certo.

Perdeu R$ 15 milhões com as laranjas, suas iniciativas nas corridas como empresário jamais saíram do vermelho, convive hoje com 112 cobranças judiciais e uma dívida de R$ 27 milhões – valores não corrigidos… Lemyr termina afirmando: “Triste situação de quem driblou a morte várias vezes nas pistas e foi derrotado na selva dos investimentos. Lastimável é que, desta vez, o piloto não poderá socorrer o empresário…”.

As virtudes que garantem a uma pessoa consagrar-se numa atividade não necessariamente garantem sucessos nos negócios. E assim sempre é recomendável que confiem suas iniciativas e empreitadas a profissionais de confiança, competência e qualidade. Tomara que o grande campeão e abridor de portas consiga dar uma última acelerada e cruzar a linha de chegada com sua derradeira e principal vitória. Enquanto isso não ocorre, fica a lição.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)