Era um dia como outro qualquer. E eu ali, esperando a hora do voo. E, de repente, o celular deu pau! PT: perda total. Nos primeiros minutos, a gente fica desnorteado, parece que está faltando uma parte do nosso corpo.

De fato, o ser humano de hoje é composto de cabeça, tronco, membros e smartphone. Passa um pouco mais de tempo e então bate aquela sensação de Fomo (Fear of Missing Out – Medo de estar perdendo coisas importantes) elevada ao quadrado. Não ter um celular à mão é comparável a estar nu. E agora? Que farei?

Que tal observar o que se passa ao redor? E aí começam as surpresas. A primeira delas é a constatação da condição ridícula de dependência e subjugação que chegamos em relação à conexão celular.

As pessoas ao redor não se olham mais – na verdade, apenas olham uma coisa com atenção: a tela do celular.

E ali, desprovido do aparelho que me igualava a elas, tenho o distanciamento crítico que me faz, primeiro, me envergonhar de ter um comportamento de zumbi como o daquelas pessoas.

Depois, resignado pela falta do aparelho onipresente, começo a tentar sobreviver sem ele. Olho para cima e vejo uma arquitetura interessante. Vejo grandes janelas que emolduram o céu azul lá fora.

Como não havia me dado conta desses detalhes, que vejo por inteiro agora?! Olho para os lados e vejo coisas que passam despercebidas todo o tempo. Ouço sons que são mais claros agora, que não uso fones de ouvido.

Aguço, enfim, todos os sentidos, antes entorpecidos pela dedicação total à tela do celular. E, de repente, a experiência de celular less começa a ficar interessante. E me pergunto se não deveríamos vivenciá-la mais vezes. Não é uma decisão fácil.

Basta analisar estes números para sentir uma sensação incontornável de Fomo: em apenas um minuto, 103.500.000 emails classificados como spam são enviados no mundo, 4.500.000 vídeos são assistidos no YouTube, 456.000 tweets são gerados, 528.000 fotos compartilhadas no Snapchat, 46.000 no Instagram, 695.000 horas de vídeos assistidos no Netflix, 15.220.000 SMS são enviados, 1.000.000 de logins no Facebook, 390.000 Apps (Apple Store e Google Play) baixados e 3.610.000 pesquisas feitas no Google. Isso tudo em apenas um minuto no mundo.

As fontes são a Visual Capitalist e o Buzzfeed, os números são aproximados. E você perdendo tudo isso!? A ansiedade decorrente dessa avalanche de informação já preocupa muito! A crise de abstinência de celular já é comparada à do alcoolismo.

A ansiedade e a depressão são as doenças mais incidentes em jovens do Reino Unido, onde também o suicídio juvenil já é um problema muito sério. O excesso de tempo conectado e um consequente isolamento são causas importantes desse processo.

Segundo estudo da Hootsuite e da Weare Social, nós, brasileiros, estamos entre aqueles que mais tempo permanecem conectados: 9 horas e 14 minutos por dia. Quase metade desse tempo, via celular.

Perdemos apenas para a Tailândia e as Filipinas. Não temos estudos conclusivos sobre as consequências dessa dedicação excessiva nos brasileiros. Mas, independentemente desses efeitos colaterais do excesso de imersão em telas conectadas, o simples exercício da desconexão pode ser muito útil para nós.

Principalmente os publicitários, no sentido de melhorar o processo de empatia e de ampliação de horizontes da tão importante observação profunda da sociedade. Como sabemos, analisar e entender melhor as pessoas e seus comportamentos são as tarefas mais importantes de qualquer marqueteiro.

Os meios e as ferramentas podem mudar incessantemente, mas a empatia continua sendo o principal atributo para uma comunicação eficaz.

Não sou maluco nem retrógrado para propor o total abandono das ferramentas online, mas estou convencido de que uma desconexão esporádica pode fazer muito bem para todos nós. Experimente!

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional das Agências de Propaganda) (alexis@fenapro.org.br)