No fim da última segunda-feira, 8 de agosto, a Disney anunciou que estava exercendo sua prioridade de compra da BAMTech (da qual já tinha 1/3 das ações). Assim, passa a ser a acionista majoritária da empresa de tecnologia que pertencia à Liga Profissional de Baseball e prepara para 2018 seu serviço de streaming de esportes para a ESPN, e apronta para 2019 um serviço próprio com a marca Disney. No cardápio estará sua grade de lançamentos no cinema, que conta com Toy Story 4Frozen 2 e a adaptação com captura de performance de Rei Leão – três filmes com capacidade de ultrapassar a barreira do bilhão de dólares de bilheteria.

Com seu próprio serviço em funcionamento, a Disney deixará de colocar seus novos projetos na Netflix a partir de 2019. 

Vai fazer falta? Sim. 

Vai ser o fim do mundo? Longe disso! 

A Netflix já está neste mercado há algum tempo e tem em sua linha de executivos muitos veteranos dos mais variados estúdios. Por isso sabe a importância do conteúdo e começou a desenvolver seus “Originals”. A meta da empresa para este ano é de ultrapassar 1000 horas de conteúdo exclusivo, entre séries e filmes. 

Não por acaso também, a Netflix havia anunciado na manhã da mesma segunda a sua primeira aquisição: Millarworld, o universo criado pelo quadrinista Mark Millar. Se você não conhece, vale dizer que o escritor escocês foi quem criou algumas das ideias que renderam alguns bilhões nas bilheterias, como as HQs que inspiraram LoganCapitão-América: Guerra CivilKick-Ass e Kingsman.

Mais do que ampliação de portfólio, a Netflix consegue com esta aquisição “amarrar” um dos maiores criativos do mercado e ainda colocá-lo para continuar desenvolvendo seu universo de heróis e vilões não apenas para filmes, mas também séries, quadrinhos e – não se esqueça! – uma infinidade de produtos licenciados.

E licenciamento é algo que a Netflix mal começou a explorar, mas as várias versões de bonequinhos de Stranger Things vistas na última San Diego Comic-Con, além de camisetas e outros produtos, mostram um caminho de ouro para a empresa.

Antes mal acompanhado do que só? 

Uma coisa que a Disney certamente deve ter levado em consideração na hora que decidiu criar seu próprio serviço de streaming é a dificuldade que existe para conseguir assinantes. Por mais que seja uma “love brand” e que todos nós já consumimos os produtos Disney + Pixar + Marvel + Star Wars, não é tarefa fácil. 

Já cantava Milton Nascimento: “o artista tem de ir onde o povo está” e, neste caso, a audiência está na Netflix. Seria o mesmo que um youtuber tentar lançar um novo canal hoje em uma nova plataforma de vídeo proprietária. Ela pode até ser melhor, mais interativa, gerar mais dólares/ views, mas de que adianta se a audiência está lá no YouTube? O investimento de marketing vai ter que ser pesado!

Sabe quem deveria estar mais preocupado nisso tudo? As operadoras de TV por assinatura. Hoje já temos mais oferta do que tempo para assistir serviços como Netflix, Amazon Prime, HBO Go, Crackle, Looke e Globo Play que só precisam de internet.

A única coisa que me faz manter a assinatura tradicional em casa hoje são os eventos esportivos. Se este serviço da ESPN chegar logo por aqui, pode ser o fim de um longo relacionamento meu com minha TV por assinatura.  

Marcelo Forlani é Diretor de Marketing e sócio-fundador do Omelete Group