Alê Oliveira

Há algo preocupante em relação ao processo de renovação de talentos na área de propaganda no Brasil. Anos atrás, propaganda (ou comunicação) rivalizava com medicina em número de pretendentes nos vestibulares. A profissão de publicitário carregava valores muito desejados pelos jovens: criatividade, profissionais com jeitão descolado, charmoso e antenado. O pessoal estufava o peito e dizia: “Sou publicitário” e atraía admiração e até uma certa inveja de quem havia optado por profissões mais áridas, mais convencionais.

O tempo passou e com ele a valorização do universo ligado à internet e, principalmente, ao empreendedorismo. Assim surgiu a geração Y e, agora, os Millenialls. A expressão Millennials foi cunhada por Neil Howe e William Strauss, no livro “Millennials Rising”. A geração Millennials nada mais é que uma derivação da geração Y, que abrange os nascidos entre 1980 e 2000. Essa geração atingiu a maioridade já imersa no mundo digital. São também conhecidos como os nativos digitais, para os quais a internet tem praticamente o mesmo significado que a eletricidade tem para seus avós. Ela não os surpreende ou os assusta, faz parte do seu mundo, naturalmente.

Mas, junto com a internet, veio o mundo encantado dos negócios milionários nascidos em uma garagem. Um mundo em que uma boa ideia, um conceito bem elaborado, formatado para a internet, é capaz de atrair investidores de peso e enriquecer nerds, antes mesmo que se tornem negócios rentáveis. O sonho de muitos jovens é partir para uma startup, conseguir investidores e – o nirvana: IPO (oferta inicial de ações).

OK, nada contra esse moderno espírito empreendedor. Mas é importante ter em mente que os que conseguem cumprir essa trajetória virtuosa são poucos. A maioria descobre que abrir negócios que vingam é coisa para poucos e que o sucesso é muito mais do que uma ideia bacaninha. Para os demais simples mortais, o caminho é escolher uma profissão que garanta uma renda confortável e (por que não?) também o prazer.

Que tal uma carreira na propaganda? Eu sei que tivemos nos últimos tempos alguns arranhões na profissão. Alguns pseudopublicitários andaram pisando na bola, se tornando protagonistas no jogo sujo da corrupção. Isso acontece em qualquer profissão. Há uma maioria de bons profissionais e alguns picaretas com desvios éticos e morais. No mais, a nossa propaganda é uma parte exuberante da economia criativa. É a mola propulsora de riqueza. Não à toa, é considerada a “alma do negócio”.

Estima-se que mais de dois terços dos problemas sejam advindos de uma má comunicação ou a ausência dela. Veja a importância desse negócio! Provavelmente você, leitor desta coluna, já esteja no mercado há um tempo. Mas precisamos levar essa mensagem para os jovens que estão por decidir que profissão adotar. Precisamos resgatar o charme e a importância da profissão “publicitário”.

Recentemente, ouvi de um professor universitário que poucos alunos de graduação em comunicação ou publicidade pretendem seguir carreira em agências de propaganda. Por que será? Será que as agências não estão abrindo portas para os novos talentos? Será que as agências não estão remunerando profissionais de forma competitiva? Será que o ambiente das agências está menos atraente, menos divertido? Lembro-me muito bem quando entrei para o universo das agências de propaganda, sendo convidado a trabalhar na DPZ. Era um sonho sendo concretizado. Até porque não era uma agência qualquer: era simplesmente uma das mais incensadas do mercado (que continua mandando muito bem hoje como DPZ&T). Me entregaram um espécie de manual de integração que passava os compromissos fundamentais da agência: Verdade, Originalidade, Bom Gosto e Ética. Mas havia uma frase final no tal manual que nos motivava ainda mais. Era algo mais ou menos assim: “E, acima de tudo, divirta-se, porque essa nossa profissão pode proporcionar isso”. É isso que precisamos resgatar.

Precisamos oferecer aos jovens profissionais um ambiente descolado, criativo, mas também de oportunidades de crescimento e de participação no negócio da agência. Ouvi de publicitários cariocas, em uma sessão de design thinking promovida pela Fenapro, que um caminho seria apresentar ao profissional uma forma de participação direta no sucesso da agência. O fato é que precisamos ir para as escolas, levar uma mensagem que destaque a relevância do nosso negócio. Precisamos resgatar o interesse do jovem estudante pela nossa profissão, sob risco de ter uma geração perdida. Vamos juntos?

*Superintendente da Fenapro e VP da Ampro