Como estão evoluindo as maiores empresas brasileiras em seus padrões de transparência e prevenção à corrupção? Não muito bem, de acordo com um estudo inédito realizado pela Transparência Internacional voltado a avaliar a transparência de organizações com sede no Brasil. O novo estudo é parte da série TRAC – Transparência em Relatórios Corporativos, que teve edições em 2012 e 2014 voltadas para as maiores multinacionais do mundo, e em 2013 e 2016 para as maiores dos mercados emergentes.

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Em 2016, foram avaliadas 12 empresas brasileiras e esta nova edição avaliou as 100 maiores empresas e os dez maiores bancos brasileiros a partir do ranking Valor 1000. A avaliação foi feita em três dimensões: programas anticorrupção, estrutura organizacional e dados financeiros sobre a atuação em outras nações.

O resultado geral é que, apesar do esforço de algumas empresas para se adequar aos padrões internacionais de transparência, a grande maioria teve um desempenho ruim na adoção de programas anticorrupção e na divulgação da sua estrutura organizacional/societária. Em uma escala de 0 a 10, a nota do conjunto no índice geral – que avaliou programas anticorrupção e estrutura organizacional – foi de 5,7, e no Índice de Multinacionais Brasileiras – que avaliou os quesitos anteriores e mais dados financeiros sobre atuação em outros países – a nota foi ainda pior: 4,5.

O baixo desempenho se refere à (não) divulgação de relatórios por país de operação: das 53 empresas com operações fora, 41 receberam nota 0 em transparência, pois não divulgam informações básicas sobre suas atuações no exterior.

Claudia Sanen, consultora da Transparência Internacional, afirma que dados como esses apontam claramente a propensão à corrupção.

Guilherme Donega, consultor da Transparência Internacional Brasil, afirma que, dentro da esfera das políticas anticorrupção, são avaliados 13 quesitos, como por exemplo se a empresa possui política de tolerância zero à corrupção ou se possui um canal de denúncia em que funcionários podem levantar preocupações sem medo de retaliações, dentre outros.

Das 110 empresas pesquisadas, segundo Donega, 48 não possuem um compromisso da alta liderança de apoio aos chamados “programas de alta integridade”. No índice geral, as empresas mais bem colocadas foram Neoenergia, Votorantim Cimentos, EDP-Energias do Brasil e CPFL Energia. Por sinal, o setor de energia elétrica abriga quatro das dez empresas mais bem colocadas no índice geral, e atinge a média de 7,7, a melhor dentre os segmentos pesquisados. O pior setor é o de veículos e peças, com média de 3,5. 

Outras empresas que se saíram razoavelmente bem na pontuação (com médias até 8,1 e em ordem de pontuação decrescente) foram ainda Arcelor Mittal Brasil, Embraer, Oi, Copel, Fibria, BTG Pactual, Cemig, Light, Banco do Brasil, Petrobras, Telefônica Brasil, Brasken, Marfrig, BRF, Rede D’Or São Luiz, JSL, Azul Linhas Aéreas, Whirlpool e JBS.

Entre as piores colocações, com pontuação abaixo de dois, estão Syngenta, InterCement, Novelis, Ale Combustíveis, Saint-Gobain, Fertipar, Máquina de Vendas Brasil e Honda South America.