Por diferentes motivos e razões, físicas e jurídicas, todos estão perdendo a visão. Muito especialmente, a visão do distante, do mundo depois da esquina; nas empresas os comandantes não conseguem enxergar meio palmo adiante do nariz. Empresas com visão estratégica zero. Contam exclusivamente com o hoje. Matam um leão por dia, vencem batalha após batalha. E… perdem a guerra. Vencem todas as batalhas de guerras sem sentido. Vencem as batalhas erradas.

Doutor Rubens Belfort foi um dos mais renomados e respeitados oftalmos da cidade de São Paulo nos anos 1950. Sua clínica, na esquina da Angélica com a Higienópolis, era referência. Em entrevista para a Folha, dia desses, seu filho, Rubens Belfort Jr., também oftalmo, e integrante da Academia Brasileira de Medicina, contou que seu pai, pesquisador da Faculdade Paulista de Medicina, desenvolveu pesquisas e tese demonstrando que a miopia era uma raridade entre os indígenas. Corta para 2017. OMS – Organização Mundial de Saúde. 27% da população é míope. 2050, salvo mudança de comportamento ou milagre, 52% da população será de míopes.

A miopia, assim, que já ataca de forma devastadora as empresas, que em sua quase totalidade perderam por completo a visão estratégica, agora devasta os seres humanos em decorrência dos novos hábitos e costumes da tal da vida moderna. Mais grave ainda. Os graus de miopia são crescentes. Em 2010, a alta miopia – mais de cinco graus – afetava apenas 2,8% dos míopes. Em 2050, serão 10%, três vezes e meia mais…

Causas:

1 – pessoas lendo mais e mais cedo através de computadores, tablets e smartphones;
2 – evoluindo, ou melhor, involuindo, do maior para o menor, das telas grandes para as telas pequenas;
3 – lendo mais em ambiente com pouca luz – nos transportes;
4 – cidades verticais, em que se diminui o tal do “ar livre” – a miopia é menor nas cidades horizontais vizinhas de São Paulo, por exemplo, do que na capital.

O outro lado é que os negócios relativos à visão serão multiplicados muitas vezes. Mais ainda, determinarão a quebra de barreiras ou restrições, como, por exemplo, a obrigatoriedade de se ir a um consultório oftalmológico para se aviar uma receita, como ainda ocorre em nosso país, e não mais em quase todos os demais. Onde óticas e oftalmos se somam e funcionam num mesmo lugar…

Já a miopia das empresas só mesmo com o apoio externo e de consultores de confiança. Tudo mais é breu. Os colaboradores internos – todos – alocam 100% do tempo às trincheiras e às componentes táticas de sua atuação. E nos fins da tarde entram em barzinhos e pedem, além de uma dose de gin ou scotch, sempre a mesma música, For All We Know, na voz de Bette Midler, e composta por J. Coots e Sam Lewis…

“For all we know this may only be a dream. We come and we go like a ripple on a stream. So love me tonight, tomorrow was made for some. Tomorrow may never come, for all we know…”.

Talvez não exista amanhã, pelo pouco que sabemos e pelo muito que desconhecemos. A cada dia que passa aumenta a quantidade de empresas que tombam em combate mesmo tendo vencido todas as batalhas. Não se deram conta que, por miopia, guerreavam, repito e reitero, a guerra errada.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)

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