Quase sempre que se fala de educação por aqui, a associação imediata é com a qualidade da formação acadêmica ou técnica dos brasileiros, o que, houvesse vontade política e recursos suficientes, daria um futuro mais promissor ao país. Sabemos, no entanto, que estamos, nesse assunto, longe de oferecer à grande maioria da população alguma coisa similar aos países desenvolvidos. Mas essa é apenas uma parte do problema.

A superexposição a que estamos hoje todos sujeitos é uma armadilha fatal para a imagem de uma nação. Espetáculos de extraordinário poder midiático, como a Copa do Mundo, por exemplo, são ocasiões em que as “marcas” dos países despertam percepções muito rapidamente. E é do comportamento dos nacionais que se constituem os subsídios para a definição de conceitos sobre o país na mente de quem assiste.

Há povos que apenas correspondem à expectativa que se tem das atitudes normais deles, como uma elegância simpática ou a alegria manifesta. Mas também há aqueles de quem pouco se sabe e a oportunidade se abre para revelarem-se aspectos positivos ou negativos. Por isso, uma população carente de boas maneiras como a nossa deveria ser instruída para as ocasiões em que estivesse expondo a cara do Brasil.

Se os russos fizeram uma campanha para que sua gente sorrisse mais, procurando “vender” uma imagem simpática da Rússia, poderíamos também ter feito uma campanha voltada àqueles que viajaram para a Copa. Com isso, quem sabe, teríamos evitado alguns vexames, como as grosserias cometidas contra mulheres e adolescentes. Infelizmente até o momento tudo o que se destaca dos brasileiros, fora e dentro do campo, aliás, é revelador de uma mistura nefasta de malandragem, mediocridade e baixo nível de educação.

Verdade que, recentemente, imitando os senegaleses, alguns brasileiros trataram de dar uma limpada nos espaços ocupados no estádio em que assistiram a um jogo. Mas até agora o que se tem revelado expressão maior da nossa gente não é nada de que nos orgulhemos. Acredito que é uma boa oportunidade para agregarmos à ideia de valorizar a educação, recomendações que não se restrinjam aos ambientes focados na formação intelectual.

Precisamos ensinar e praticar civilidade. Ainda somos muito primitivos no geral. Confundimos alegria com uma euforia grotesca, agressiva; só conhecemos o humor em prejuízo de alguém. Somos rudes no gestual, desatentos com o próximo, temperamentais frente à menor contrariedade. Isso parecia pouco enquanto era testemunhado apenas por nós mesmos e a que sempre acabamos nos acostumando.

O diabo é que agora tudo está exposto ao mundo, o tempo todo. Não dependemos mais da boa ou da má vontade dos outros para sermos avaliados. Não é mais necessário convocar testemunhas para narrar nossas atitudes. Elas estão online.

É só acessar as redes sociais para flagrar nosso analfabetismo crasso, bastam dez minutos assistindo a um programa popular para nos vermos diante do patético, em termos de falta de autocrítica, uma busca por “funk proibidão” no YouTube e percebemos que vivemos sob o império da libertinagem. Some-se aí o poder da corrupção e teremos o desenho de um país sem futuro.

Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing (stalimircom@gmail.com)

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Até quando esse “papinho de diversidade” vai durar? Até quando for necessário. Estamos entendidos?