Ao mesmo tempo em que o Brasil não conseguia (e não consegue) entender o episódio da carne, a não ser tomar ciência do enorme prejuízo que a irresponsabilidade de despreparadas autoridades provocou a todos nós, o ministro Meirelles discursa anunciando o aumento de impostos, que muito provavelmente recairá sobre o PIS e a Cofins.

 Passado o Carnaval, os brasileiros confiavam na volta à normalidade, ainda que lentamente, do mundo dos negócios. Vislumbrava-se a partir daí um arrefecimento da recessão e uma consequente constante melhora da economia.

 Mas, como o Brasil não é para principiantes, como constatou Tom Jobim, poucos dias se passaram após a Quarta-feira de Cinzas, para explodir o escândalo da carne, aumentado milhares de vezes pela incúria da ação da Polícia Federal, que tem cada vez mais apreciado os holofotes da mídia.

O mau trato do produto em alguns poucos frigoríficos estendeu a negligência (para dizer o mínimo) a todo o setor no país, causando o cancelamento de várias exportações já contratadas com países compradores, como também uma séria preocupação na própria população brasileira, por tradição apreciadora em sua grande maioria de um bom churrasco.

O inacreditável imbróglio, por ter envolvido os três principais frigoríficos do país, provocou uma série de esclarecimentos na mídia (que de há muito não via tantos comerciais e anúncios em tão poucos dias), envolvendo até hábitos saudáveis à mesa dos antigos donos da Sadia, de cujo patriarca Attilio Fontana foi extraído um testemunhal dos velhos tempos, onde o saudoso afirmava que a sua empresa só fabricava o que podia ser servido à mesa da sua família.

Sempre eficiente, a Globo, logo no segundo dia a partir do início da crise, expôs na tela do Jornal Nacional uma informação oficial preocupante: de tantos milhões de dólares que o Brasil vinha exportando diariamente pelo setor cárneo, naquele dia, o valor das exportações não passou de algo em torno de oitenta mil dólares.

Até o presidente da República envolveu-se no imbróglio, levando um grupo de embaixadores e representantes de países compradores a um jantar onde foi servido um bom churrasco à gaúcha em que, garantem algumas fontes, inclusive o depoimento do proprietário da churrascaria, o que foi servido veio de fora (do país). Ou seja, muito provavelmente carne argentina, já se insinuando como substituta natural dos condenados derivados “cárneos” brasileiros.

A brincadeira (ou teria sido verdade?) gerou, como não poderia deixar de ser, entre nós, brasileiros, uma espécie de teoria da conspiração por parte dos frigoríficos “hermanos”, que teriam contribuído para aumentar a repercussão do episódio.

Ainda não se sabe como vai terminar tudo isso. A Semana Santa que não demora poderá dar uma trégua nessa encrenca, pois a procura e o consumo de carne costumam cair nessa época. Mas, afinal, onde está o balanço de toda essa grande confusão? Onde estão os grandes responsáveis, se é que eles realmente existem? Alguns presos na ocasião, funcionários daqueles poucos frigoríficos realmente visitados pela Polícia Federal, já foram soltos, devendo responder em liberdade aos respectivos processos, por terem bons antecedentes.

Ao que se sabe, nenhuma vítima reclamou de problemas por ingestão da carne e derivados condenados pelas autoridades. Houve até uma piada (inteligente) que rolou junto à população que se recusava a consumir carne nos dias que se seguiram ao imbróglio: “Você pode não comer mais daqui pra frente, mas o que já comeu seria o suficiente para matar ou adoecer gravemente, caso o produto estivesse contaminado, como chegou a ser divulgado”.

 Trata-se de mais um espetáculo varonil do querido Brasil, onde o circo é rapidamente armado, milhões prestam nele todas as atenções e logo depois pouco ou nada mais se fala sobre o que teria de fato ocorrido no picadeiro.

Como disse aquele dirigente petista quando foram noticiadas as primeiras propinas do mensalão, no futuro próximo esse escândalo (da carne) e todos os prejuízos causados aos frigoríficos e revendedores serão considerados piada de salão.

Mais uma para valorizar os repentistas que enchem os salões da alta sociedade e da periferia nos fins de semana, contando piadas novas sobre fatos que se repetem há décadas no Brasil tão cheio de ginga.

 

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Nosso colaborador bissexto Humberto Mendes, diretor da Fenapro, envia-nos um comentário sobre o que chama de “a crise da carne”, do qual destacamos o parágrafo inicial: “Daqui a pouco nossos desinformados de sempre vão dizer que a culpa é do consumidor, que não soube analisar os produtos no ponto de venda, porque esses mesmos desinformados já começam a atribuir a culpa à propaganda e aos modelos utilizados nos comerciais”.

“A propaganda – prossegue Mendes – sempre acaba ficando com parte de uma culpa que não tem, porque todos – até o mais ingênuo dos consumidores – sabem que a mesma não participa do abate de animais e muito menos do trabalho de embalar e distribuir os produtos, orientando os canais de distribuição, na manipulação das embalagens de plástico, papelão, isopor e outras, no ponto de venda”.

 “Também – finaliza Mendes – não cabe a menor parcela de culpa aos modelos utilizados nas campanhas, já que não faz parte do trabalho deles analisar os produtos a serem anunciados, até porque quando um produto sai da linha de produção, já recebe um carimbo indicando que foi inspecionado, com número de SIF e tudo o mais”.

 

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Duílio Malfatti, secretário de publicidade e promoção da Secom, palestrou na última sexta (24), na Aner (SP), falando sobre a sistemática de relacionamento entre o governo federal, agências e veículos de comunicação. Segundo ele, “ao contrário do que acontecia na gestão anterior, agora adotamos um alinhamento entre todos os órgãos do governo, para podermos tratar da comunicação de forma racional e ao mesmo tempo mais profissional. Nossa política é de portas abertas, através da qual todos os veículos e agências podem agendar reuniões com a Secom e apresentar seus projetos”.

A Secom está finalizando a licitação para a escolha de três agências que administrarão a verba de mais de R$ 200 milhões da mesma.

 

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O Editorial desta edição é dedicado a Roberto Duailibi, que dispensa créditos.

Armando Ferrentini é presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda