Mais adiante, quando a crise conjuntural que devasta a economia brasileira for estancada e o país voltar a crescer, muitas histórias ficarão pelo caminho. Galpões abandonados, decorrentes de entusiasmos desmesurados, que levaram a situações irreversíveis de rendição. Quarta-feira, 4 de novembro de 2015, a imprensa noticiava que a Marcopolo, com quase 40% do mercado de carrocerias de ônibus do Brasil, assumia o controle da Neobus. Empresas vizinhas da cidade de Caixas do Sul. Um ano e pouco antes…

Quinta-feira, 27 de março de 2014. A prefeitura de Três Rios (RJ), em seu portal, com entusiasmo e orgulho, anuncia: “A empresa Neobus inaugura aqui sua segunda fábrica no Brasil (a matriz é em Caxias do Sul), nesta quinta-feira (27/03). O evento será realizado a partir das 15 h na nova planta da empresa (km 17 da BR 040), que tem 40 mil metros quadrados, e contará com a presença do governador Sérgio Cabral e do prefeito de Três Rios, Vinicius Farah…”. A partir daquele momento, a Neobus decidira concentrar em Três Rios 100% de sua produção de ônibus urbanos. E confessava-se mais que entusiasmada com a qualidade da mão de obra local. Segundo fontes da prefeitura, “eles nos disseram que a mão de obra formada no município foi tão boa que, em três meses de funcionamento, a filial daqui já está produzindo com um grau de excelência acima do esperado. Por isso, resolveram trazer para cá toda a produção dos ônibus urbanos”.

E a cidade comemorava. Os 300 novos empregos, rapidamente – 12 meses – chegariam a 1.200, e a 2.500, em 2016… Três anos depois, jornal Valor, último fim de semana de abril de 2017: “Três vigias no lugar de dois mil funcionários na Neobus…” E no texto: “Dentro do galpão de 20 mil metros quadrados fechados da fabricante de ônibus Neobus em Três Rios, a 130 quilômetros do Rio de Janeiro, há somente quatro carrocerias abandonadas e praticamente nenhum maquinário da antiga linha de montagem que chegou a produzir 15 ônibus por dia… A unidade está fechada desde maio do ano passado… A Neobus chegou ao município em 2014, atraída por uma política de incentivos fiscais e na produção de ônibus escolares para o Rio, Minas e São Paulo. A crise, porém, destruiu as finanças das prefeituras e as vendas não se confirmaram…”.

A Neobus investiu R$ 100 milhões na fábrica. No dia do fechamento, restavam três pessoas e um cachorro cuidando do que sobrou. Todo o comércio ao redor naufragou junto. Um restaurante, o Rodo Lanches, construiu um segundo galpão e cozinha apenas para atender à Neobus: “com o fechamento da fábrica, esse movimento morreu”. Falando sobre a tragédia que se abateu sobre a economia de Três Rios, Paulo de Oliveira Souza, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas local, disse, “Não é a demissão de um funcionário que fazemos, mas de uma família inteira”. Traduzindo o sentimento de seus companheiros, Marina Falcão e Sergio Ruck, que participaram da matéria especial de Valor, O silêncio das fábricas entristece as cidades, Carlos Pietro, conclui: “O dia a dia da crise no mundo real é feito de fábricas fechadas, trabalhadores em casa, sistema de saúde pública lotado, comércio vazio, aumento de violência e prefeituras quebradas… Da gigante Usiminas, em Cubatão, passando pela Neobus, em Três Rios, até as pequenas moveleiras de Ubá, nada dá sinais que as máquinas serão ligadas. As fábricas devem continuar caladas por algum tempo ainda…”.

Qualquer planejamento minimamente competente começa pela análise do ambiente. O tal do Pest – Político, Econômico, Social e Tecnológico. Para depois, concentrar-se no mercado. E o P de Político vem em primeiro lugar não por acaso. Enquanto não eliminarmos a toxidade, a corrupção, a insegurança total e absoluta no ambiente político, qualquer novo investimento é arriscado e temerário. Assim, de verdade, é pela reforma política que se começa a reconstrução do Brasil.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing