Dependendo de como definamos o que é uma droga, no sentido negativo, o de gerar dependência e provocar transtornos de diferentes ordens, sem a menor dúvida, convivemos, cândida e inocentemente, com uma nova e poderosa droga. Os videogames. E não é de hoje. Começou nos anos 1970, com o Atari, Intelevision e Odissey, e hoje multiplicou-se ao infinito. Só que lá atrás não existiam os smartphones, tablets e consoles individuais. E os games eram maçantes e feios.

Dava um trabalhão montar os jogos na velha TV… E a qualidade da imagem encarregava-se de abortar qualquer possibilidade de vício. Um tédio. Cansava rapidamente. Em matéria recente no Estadão, o jornalista Marco Antônio Carvalho entrevistou o psicólogo Cristiano Nabuco, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Na abertura da entrevista, o jornalista introduz o entrevistado e conta um pouco sobre essa nova realidade. Diz o jornalista Marco Antonio Carvalho: “Há cerca de 13 anos o psicólogo Cristiano Nabuco reúne jovens no HC para debater e tratar de dependências tecnológicas como o excesso de uso de videogames. Da década passada para cá, uma das diferenças é que os participantes são cada vez mais jovens, ainda… meninos… Se antes tinham entre 15 e 16 anos, hoje já atende crianças entre 7 e 8 anos. Será que não é esse o problema daquele menino da turma do seu filho que só apronta…?

Em decisão recente a OMS – Organização Mundial da Saúde passou a classificar o vício em videogames como doença da área da saúde mental. “Os jogos são construídos para capturar cada vez mais a atenção…”, afirma o psicólogo Cristiano Nabuco: “hoje, diferente do início, os games não têm mais o ‘game is over’; há pressões diretas e indiretas para que se queira jogar cada vez mais”.

Como nas drogas, digo eu, Madia. E, na matéria, outras e alarmantes realidades, tipo, hoje e só na China existem mais de 150 hospitais para a internação dos dependentes de videogames… Talvez a maior e mais grave dentre todas as doenças do século 21…

O caminho percorrido pelos games é rigorosamente o mesmo dos traficantes de droga, diz o psicólogo… “Primeiro uma versão grátis, na sequência uma generosidade desproporcional na distribuição dos pontos, até capturar e por completo a atenção dos jovens e ingressar no território da dependência e compulsão. De quebrarem todos os recordes e mais recordes. E assim, e aos poucos, em vez de minutos, os jovens começam a alocar horas do dia para vencerem os novos desafios de games que jamais terminam…”.

“Pior ainda, se as primeiras iniciações ou degustação de maconha ocorrem aos 12, 13 e 14 anos, a indução ao vício dos games muitas vezes ainda começa com os bebês de 1 ou 2 anos, muitos nos colos de suas mães, e através dos celulares para distrair…”.

Hoje o tratamento para a dependência de games é psicoterapia, e quando o vício extrapola recomenda-se medicamentos.

Grupo de risco maior, meninos e adolescentes jovens. Principais disseminadores ou traficantes do vício e das drogas? Pais e mães querendo um tempo para eles e colocando seus smartphones com jogos inocentes para seus filhos se distraírem…

Iniciarem-se no vício… Drogarem-se!

Que desafio!

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)