Impossibilitados de resolver no curto prazo as sucessivas crises políticas que se abateram sobre o país, além de exauridos pelo repetitivo noticiário de falcatruas velhas e novas que compõem esse cenário, nota-se um clima de indiferença começando a se instalar ainda que provisoriamente junto à população.

Isso não quer dizer que está acionado um sinal verde para o prosseguimento da corrupção. Apenas um certo conformismo com o tempo que temos ainda a percorrer, até que os maus frutos apodreçam e caiam dos galhos das frondosas árvores em que se instalaram.

Esse comportamento, ainda incompreendido pelos mais exaltados, é uma característica do nosso povo, graças à sua índole pacífica que rejeita soluções de violência em curto prazo.

Por outro lado, os agentes da desordem, pagos para trabalhar nisso, sabem dessa nossa característica e se tornam então mais agressivos nos seus ataques planejados por líderes interesseiros, que pouco pensam no povo que tanto dizem defender.

O que houve em Brasília na última quarta-feira (24) é bem uma demonstração desse quadro e do espírito pacífico dos que foram vítimas dos pastores da desordem e seus discípulos.

Basta comparar o que aqui se viu, com o que tem se repetido com frequência em países como a Venezuela, onde tem havido sempre dois lados, o famoso “nós” e “eles” já implantado também entre nós, só que com reações distintas.

Enquanto na Venezuela e em outros países há o confronto físico, pondo em risco a integridade física e por consequência a vida dos manifestantes, no Brasil felizmente isso raramente ocorre.

O que se vê são grupelhos, a soldo de lideranças sem escrúpulos, servindo de massa de manobra para os seus chefes, sem mesmo entender por completo a causa que defendem.

Os entreveros em nosso país geralmente ocorrem entre esses grupos e a polícia ou a Força Nacional. Chamado o Exército por Michel Temer ou Rodrigo Maia na quarta-feira em Brasília, os “guerrilheiros” logo de dissiparam, não sem antes atear fogo em alguns edifícios públicos, demonstrando com isso o alto grau de baderna de que são possuídos ou orientados para tal.

Achamos estranha a reação de algumas lideranças reconhecidamente a favor desses grupelhos, condenando o chamamento das Forças Armadas para coibir não apenas o que já ocorria, como evitar o pior prestes a ocorrer.

Não se tratava de uma briga de jogadores durante uma partida de futebol.

Eram brigões remunerados objetivando provocar uma situação insustentável de caos, buscando alcançar um desfecho incontrolável. E, se possível – o que seus líderes vêm perseguindo há tempos e até aqui ainda sem ocorrer –, culminando com vítimas fatais, para desfilar através das imagens das tevês, por todo o país e impressionar governos e povos estrangeiros.

Já vimos este filme antes, já vimos o infeliz Edson Luis ser morto nos anos 1970 durante uma passeata na Candelária, que se transformou em confronto com policiais militares e o cortejo fúnebre-político que se fez com o cadáver ainda quente da infeliz vítima.

A indiferença de hoje, que vem se acentuando nos últimos dias, à espera de soluções jurídicas para a mais recente crise instalada no país, advinda da gravação que um empresário-bandido fez com o presidente da República (que este colaborou por complexo de culpa ou tentando obter vantagens do algoz), essa indiferença popular não é à toa.

Resulta de um aprendizado que, embora a duras penas, tem se instalado entre nós, provocando o nosso afastamento direto de conflitos com grupelhos que, como se disse acima, nem sequer sabem direito a qual causa servem.

Temos, isto sim, a obrigação de pressionar a Justiça para que os vendilhões da pátria sejam devida e rapidamente punidos, para voltarmos à nossa normalidade institucional.

Se hoje, com todos esses lamentáveis acontecimentos dos últimos dias, conseguimos atingir um razoável grau de indiferença, com ação rápida e devidamente legal da Justiça, sem firulas, teremos condições de assistir ao início de um novo tempo no Brasil.

Um tempo que sempre foi nosso, mas que malandramente alguns pseudo-líderes corroeram, desviando para proveito próprio o que de bom restou. Notem os leitores a dificuldade em se identificar, dentre todas essas “lideranças” – incomparáveis aos verdadeiros líderes populares que a História registra, inclusive no passado brasileiro –, um só, um único desapegado dos bens materiais e vivendo uma vida modesta, como vive a maioria dos trabalhadores deste país.

 

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Com a presente edição, o PROPMARK passa a ter a sua Redação comandada pela jornalista Kelly Dores, respondendo agora pela produção do conteúdo tanto do impresso como da versão online do jornal.

 

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Este Editorial é uma homenagem ao inesquecível Geraldo Alonso, líder empresarial do mercado publicitário brasileiro, presidente da Norton, que em momentos políticos conturbados como o atual, não deixava de se manifestar publicamente.

Essa sua característica fazia com que sua voz fosse ouvida e reproduzida, principalmente quando em defesa da democracia e da importância do negócio publicitário.

Armando Ferrentini é presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda