A solidão programada é a primeira das minhas fontes de inspiração. Estar sozinho amplia meu senso de observação e me permite exercitar o papel de eterno curioso. Chamo de solidão programada porque não sou um misantropo. Ao contrário, adoro gente – se não gostasse tanto de entender, ouvir, encantar e conectar pessoas, nem trabalharia em propaganda. Também adoro e incentivo todos os processos colaborativos na minha agência e sou do tipo que prefere sempre trabalhar em grupo a trabalhar sozinho. 

Mas preciso programar a minha solidão a intervalos regulares, porque nela, sem ruído ou interferência, consigo misturar livremente as tantas milhares de coisas que flutuam pela minha cabeça. Adoro fazer sozinho coisas que muitas pessoas só conseguem fazer acompanhadas. Vou dar um exemplo antes que você pense besteira: viajar. Coisa deliciosa de se fazer com amores ou amigos, mas uma coisa também incrivelmente inspiradora quando feita sem companhia.
Porque viajar sozinho é gastar o tempo sem compromisso ou negociação. É deixar espaço para as pequenas bobagens e as grandes desimportâncias. É perder-se na observação dos tipos humanos e sua incrível variedade. É entrar no metrô e fazer-se de invisível – e não tem coisa mais inspiradora que brincar de ser invisível.

Fotos: Divulgação

Outra fonte de inspiração pra mim é a releitura de um livro. Já reli muitos livros. Com frequência, vejo os exemplares novos se empilhando na cabeceira da cama enquanto estou atracado a um livro que já sei como começa e como acaba. Mas, talvez, o que eu curta na releitura seja exatamente isso. Sem a ansiedade da próxima página, posso me perder nas sutilezas escondidas na primeira leitura. Posso viajar e fazer um monte de conexões e ilações que não consegui da outra vez. O último livro que eu reli foi O Filho de Mil Homens, do angolano Valter Hugo Mãe. Com este, exagerei: li três vezes, uma delas em voz alta (aliás, pode ser muito inspirador ler um livro em voz alta para alguém).

A terceira fonte de inspiração vem do meu envolvimento grande com negócios sociais. Isto ganhou impulso cinco anos atrás, quando idealizei a NBS Rio+Rio, nosso braço de social business. A NBS Rio+Rio faz a ponte entre a iniciativa privada e comunidades desassistidas, propondo modelos de negócio em que os dois lados ganham.

Qualquer projeto lá precisa promover alguma transformação na comunidade e trazer retorno para a marca. Participar deste universo de negócios sociais me alimenta e me energiza de uma maneira espetacular. Tive a felicidade e o privilégio de conhecer pessoas incríveis, com histórias e vivências que são pra lá de inspiradoras.

Gente que, com pouco ou quase nada, está fazendo, mudando, se movendo, empreendendo e fomentando. Com esta turma, aprendi – e continuo aprendendo – a treinar mais a escuta, a exercitar mais a empatia. Escuta e empatia tão necessárias e, ao mesmo tempo, tão tristemente ausentes em muitas conversas de marketing. Escuta e empatia que me deixam um profissional melhor. Mas, principalmente, fazem de mim uma pessoa melhor (ô, pretensão!). 

Porque é isso que fazem as coisas verdadeiras inspiradoras: até ajudam no trabalho, mas modificam mesmo é a sua vida.

André Lima é sócio e VP de criação da NBS