O suplemento Rio Show, d’O Globo, traz extensa matéria sobre as feijoadas dos restaurantes no Rio de Janeiro. Traz um guia caprichado de onde comer as melhores e as variedades que se podem encontrar.

Conta onde é possível comer uma feijoada completa, aquela que tem até ambulância de plantão, como diria Sérgio Porto. Ou seja, as que trazem de tudo, incluindo rabo, pé e orelha, e também onde encontrar as mais contemporâneas, que restringem as carnes às conhecidas como “nobres” e frescuras como “linguiça artesanal”.

Até aí tudo bem. Mas é na hora dos preços que a porca torce o rabo. Constata-se que não é nem a qualidade dos ingredientes nem o luxo do ambiente que explicam a variação ensandecida entre um estabelecimento e outro.

No Rio, um freguês pode pagar por uma feijoada completa, de qualidade reconhecida, com direito a batida de limão, laranja, couve e porção extra de caldinhos, ou até mesmo de carnes, por 45 reais para duas pessoas. Já no outro extremo, um bufê apenas razoável a 125 reais por cabeça. E não estou comparando um pé sujo ordinário do subúrbio com um cinco estrelas. São dois restaurantes de padrão mais ou menos igual, de boa qualidade e da Zona Sul.

O que faz uma feijoada custar cinco vezes mais do que a outra só se explica pela extrema prosperidade de parte da população, que de tanto ganhar dinheiro, não sabe onde enfiá-lo.

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O miolo da calota de meu carro caiu (ou foi roubada), deixando um buraco preto no centro da roda. Por ser possuidor de um TOC alucinado, resolvi providenciar uma nova calotinha, pequena peça de plástico do tamanho de um copo cerrado, de custo industrial ínfimo e de nenhuma sofisticação, pesando no máximo uns 100 gramas. Preço desta coisinha no concessionário da marca de meu carro: 128 reais.

Cento e vinte e oito paus, pilas, mangos, contos. Um décimo de salário de um cidadão de classe média baixa.

Resolvo ir à internet fazer uma cotação de preços. Encontro o jogo completo de calota e calotinha (miolo), ou seja, quatro peças, por 60 reais. Não satisfeito resolvi continuar pesquisando e numa loja em Botafogo encontrei à venda uma calotinha, que eles chamam de “genérica”, por quatro reais. Tudo bem que não é original de fábrica. Mas não consigo encontrar uma única razão para pagar 30 vezes mais por um pitoco sem nenhuma grande função estrutural ou estética.

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No bar perto de meu escritório, no Centro do Rio, uma caipirinha (limão, açúcar e uma cachaça genérica) está custando 20 reais, e pode ser acompanhada por uma porção de fritas a 18 reais. A não ser que você pretenda comemorar o aniversário de casamento ou ter passado no concurso para uma estatal parruda e resolva pegar pesado: tomar uma caipirovska de lima da pérsia e mandar fazer um tira gosto de camarão. A conta vai chegar a 60 e tantos reais.

Por este preço, pouco mais de 20 dólares, duas pessoas podem almoçar arroz, salada e frango em Nova York.

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Se você chegar no Rio pelo Galeão e seu destino na cidade for Copacabana, prepare-se para pagar mais de 90 reais, ou seja, 30 dólares de táxi. Dependendo da hora da chegada, vai pegar um belo engarrafamento, igual ao que pegará no frescão. E a chance de encontrar um motorista mal-humorado que responde por monossílabos é grande. Tirando o fato de que descer de um ônibus, apesar dele ser bonito e ter um belo ar-condicionado, não tem o charme à altura de sua condição social, a viagem de ônibus chega a ser mais confortável. E a diferença de preço é simplesmente nove vezes.

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Acho que o Rio é uma cidade deslumbrante. Adoro viver aqui. Para continuar tendo à minha disposição este sol, este céu e este mar preciso me acostumar a fazer contas. Se tocar a vida como vinha fazendo, sem olhar quanto as coisas custam, me inviabilizo. Terei de ir morar em Paris.

* Para entrar em contato com o autor, escreva para lulavieira@grupo5w.com.br