Não existe almoço grátis. A frase popular significa, basicamente, que é impossível conseguir algo, sem dar nada em troca. Em todas as transações comerciais, a ilusão de que se tem alguma vantagem costuma não resistir a uma análise um pouco mais minuciosa. 

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Comemorada no dia 24 de novembro – mas, em geral, estendida para cerca de quatro dias – a Black Friday passou por crises de credibilidade, mas retorna, a cada ano, mais forte. Há sete anos é uma das principais datas do varejo eletrônico brasileiro, junto com o Natal e o Dia das Mães. Este ano a ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico) estima que o faturamento será de R$ 2,506 bilhões – um crescimento de 18% em relação ao mesmo período de 2016.

A expectativa é que as lojas virtuais brasileiras recebam mais de 10 milhões de pedidos, com tíquete médio de R$ 246, entre os dias 20 e 24 de novembro.

As categorias mais buscadas devem ser “Informática”, “Celulares”, “Eletrônicos”, “Moda e Acessórios” e “Casa e Decoração”. Se a previsão para 2017 estiver correta, o crescimento ao longo dos últimos sete anos será 20 vezes maior.

Segundo o site www.blackfriday.com.br, na primeira edição, em 2011, o faturamento foi de R$ 105 milhões.

A Black Friday nasceu nos Estados Unidos como uma promoção que antecipava as vendas que se concentravam demais no período de Natal, aproveitava o período do tradicional feriado do Dia de Ação de Graças, que lá tem grande importância.

O nome vem da ideia de que, a partir daquele momento, as empresas varejistas recuperavam o lucro, pois até aquele instante estariam operando no vermelho.

Segundo Tatiana Pezoa, CEO da Trustvox – certificadora de reviews no Brasil, que atua com o propósito de tornar a sinceridade padrão de mercado no e-commerce –, o varejo tem se preocupado em colocar promoções realmente importantes e reais, e fazer divulgação que conseguem cumprir. Mas nem tudo é perfeito.

“Nós estamos acompanhando de perto os últimos três anos de Black Friday no Brasil e temos visto algumas empresas ainda aumentarem o preço antes e depois anunciar um desconto imperdível. Aos poucos, as marcas começam a ter mais cuidado com essas práticas tão ruins, pois a principal preocupação é não cair na ‘malha fina’ do Reclame Aqui e Procon”, diz.
Segundo ela, hoje até supermercados oferecem promoções interessantes na data, mas o segmento mais forte continua sendo o de eletroeletrônicos. Beleza e perfumaria também tendem a ter boa performance, devido à proximidade do verão.

Doação

A Natura, por exemplo, este ano, fará três dias de ofertas em seu site e triplicará o valor doado com as vendas dos produtos Crer para Ver para projetos de incentivo à educação.

A Netshoes terá mais de 1 milhão de produtos com selo do Black November de descontos – e elaborou internamente sua campanha, com uma linguagem jovem, baseada em influenciadores e personalidades do meio digital.

O tema é O melhor da internet é o brasileiro e em novembro é Black Friday o mês inteiro e inclui um vídeo a ser veiculado nas mídias digitais do anunciante.

A Evino contratou quase 100 colaboradores temporários para o seu Centro de Distribuição, no Espírito Santo, e a expectativa é de vender cerca de 1,5 milhão de garrafas de vinho. A Swarowski promete descontos de até 70% em suas jóias físicas e online.

O Peixe Urbano espera crescer 30% nas vendas este ano e comemora indicadores altos de satisfação de clientes, a cada ano.

Cristina Farjallat, diretora de marketplace do Mercado Livre, afirma que no ano passado o site teve um aumento de 120% nas vendas e este ano espera dobrar o valor.

No ano passado, os produtos mais vendidos foram das categorias de Eletroeletrônicos, Auto Partes, Casa e Decoração e Moda. “Para este ano, além dessas, também estaremos focados na categoria de livros, considerando que recentemente firmamos parceria com as Livrarias Cultura e Saraiva, que passaram a integrar o marketplace do Mercado Livre como lojas oficiais”, conta.

Este ano marcas como Carrefour, Hering, Evino e Submarino Viagens, entre outras, assinaram um termo de compromisso que garante descontos reais na data. A iniciativa faz parte da Ação Black Friday de verdade, que busca engajar os consumidores, aproximando-os das varejistas.
A Proxy Media é a idealizadora do site Black Friday de Verdade e realiza uma votação pública entre 1º de setembro a 31 de outubro para a entrega do 1º Prêmio Black Friday de Verdade.

Com o apoio do E-commerce Brasil, o intuito da premiação é apresentar aos consumidores quais são as melhores lojas para comprar durante a data, com base nas experiências passadas dos próprios usuários.

São 44 lojas concorrendo em diversas categorias indicadas pela equipe Black Friday de Verdade e 20 profissionais formadores de opinião e influenciadores do mercado de e-commerce. A fim de incentivar o engajamento do maior número possível de consumidores, a ação realiza cinco sorteios de R$ 1 mil entre o público que participar. Os sorteios são realizados por meio da Loteria Federal e auditados pela Sul América Capitalização.

Treinamento

O Google se prepara para entrar na data oferecendo consultoria às agências digitais. Na semana passada, recebeu mais de 30 no seu escritório em São Paulo na primeira edição do “Agency Expert”, voltado exclusivamente para a data. Lidiane Tahan, líder de soluções de marketing do Google para agências, afirma que formar gurus do Google é uma estratégia para que a data seja melhor aproveitada por anunciantes de todos os tamanhos.

André Palis, fundador e diretor de vendas da Raccoon Marketing Digital, afirma que varejisas precisam ter bem delineado o planejamento dessa ação comercial, porque haverá um pico de usuários e de demandas operacionais, stress e problemas, mas que, no final, pode encher os cofres substancialmente.

“Uma vez ao ano, o Rio Amazonas enfrenta sua maior cheia. São milhões de metros cúbicos de água que transbordam e ocupam florestas, pastos e até cidades. A população ribeirinha teve de se reinventar para tornar o que poderia ser prejuízo em lucro. Durante a Black Friday, o comércio eletrônico precisa fazer o mesmo: preparar-se para não transformar um transbordamento de faturamento em prejuízo”, diz.