Estive em vários eventos nos últimos dias e o fenômeno que me inspirou a escrever este artigo foi comum a todos.

A cada palestra, a audiência reservava apenas alguns segundos iniciais para “escanear” o palestrante e, logo depois, mergulhava nas suas telas (smartphone, notebook e iPad), das quais se desligavam em pouquíssimos momentos, somente quando o expositor do conteúdo clamava a sua atenção.

Um desses eventos em que estive era voltado ao networking, o que pressupõe interações entre as pessoas, mas lá estavam elas ensimesmadas nas suas telas privadas, fugindo do contato com seus pares.

São muitas as imagens bizarras que vemos nas redes sociais, mostrando pessoas se submetendo a situações ridículas por estarem com os olhos presos no celular. É gente caindo em canteiros, batendo em postes, trombando com pedestres… Cenas hilárias! Mas nem sempre é engraçado.

Outro dia, me irritei com uma mãe almoçando com um filho pequeno. O filho chamava a sua atenção desesperadamente, para contar o que tinha se passado na escola e a mãe respondia monossilabicamente, sem desgrudar os olhos da tela do celular. Criticamos, mas fazemos igual. Na semana passada, estava em viagem em Recife e presenciei um belíssimo arco-íris.

O inusitado era que o fim do arco-íris estava ali, no terreno do hotel onde eu estava. Tudo o que fiz foi procurar o melhor ângulo para uma foto e postar no Instagram.

Depois fiquei pensando: eu tinha a chance de fazer o arco-íris passar pelo meu corpo, de sentir uma sensação única de “estar” num arco-íris. Mas, não, preferi postar minha experiência, em vez de vivê-la por inteiro, ali, ao vivo.

Há pesquisas que demonstram que jovens adultos checam os seus celulares mais de 100 vezes ao dia, tocando seus smartphones mais de 5 mil vezes. Eu comecei a me policiar para diminuir a interação com telas.

Passei a puxar conversa com meu vizinho de palestras. Observo mais os ambientes por onde passo. Olho para os lados, para o alto, para os olhos das pessoas. E o resultado é surpreendente.

A gente descobre um mundo novo, que passa despercebido quando não damos a devida atenção. Levando o assunto para o lado do marketing, o desafio é grande.

Essa interação absurda dos seres humanos com seus celulares dá a falsa impressão de que podemos atingi-los mais facilmente, bastando estar presente nas redes sociais e outros canais inerentes a esse mundo mobile, confiando nos algoritmos para impactar as pessoas. Ledo engano.

Nós usamos muito o celular, mas para finalidades específicas e de alta privacidade. Não ouse interromper uma conversa no WhatsApp ou me vender descaradamente algo na minha timeline do Face ou entre as imagens do Instagram.

Alguns dirão: os algoritmos se incumbirão de tornar as mensagens mais coerentes com o seu perfil, tornando a comunicação mais interessante, mas eu presencio furos homéricos dos tais algoritmos.

Os truques para nos envolver em assuntos que supostamente teríamos interesse são flagrados facilmente e rechaçados de imediato por aqueles que prezam sua privacidade.

Tenho me ocupado em furar as filter bubbles, que insistem em me enclausurar num mundo cercado apenas das coisas e assuntos que sabidamente me interesso. Quero ser surpreendido!

Quero me deparar com algo novo, estranho à bolha que criaram no meu entorno digital. Acredito que como eu existam muitos. Adoro as telas e as aproveito com bastante intensidade.

Sejam as tradicionais, da TV da sala, até a que está constantemente na minha mão. Mas não quero ficar escravo delas. Não quero me bastar com o entretenimento efêmeros do post, do meme ou do GIF engraçadinho da hora.

Quero ampliar minhas experiências reais, físicas. Quero mais olho no olho!

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