Divulgação

Muita gente tem falado, com toda razão, da necessidade de mudanças urgentes nos rumos da economia, da educação, da saúde e da moral pública. Toda mudança profunda reflete os anseios da maioria. Mas quero aqui chamar a atenção para um assunto que é muito importante, que consome todos os anos bilhões de reais dos cofres públicos e pode, em muito, mudar a imagem do Brasil e ajudar os brasileiros. Precisamos de mudanças no segmento da propaganda.

O aparelhamento do Estado, com envolvimento de partidos – e a Operação Lava Jato já provou isso – afetou profundamente as contas públicas, as agências, as produtoras, os veículos, os fornecedores de serviços e a imagem dos profissionais. E disso a classe reclamava desde os primórdios desse governo atual. O surgimento de “agências” sem qualquer credencial e sem clientes da iniciativa privada, a aparente manipulação das planilhas de licitações, o uso de estagiários em vez de profissionais, depois que as contas estavam ganhas, a partidarização das decisões, tudo nos fazia lembrar da peça O Rei da Vela, de Oswald de Andrade.

Ao longo das investigações, ficou claro que a publicidade do governo vinha sendo utilizada como foco de poder, e em muitos casos usada para desvios de recursos para campanhas eleitorais. Publicitários e pseudopublicitários foram presos, para grande prejuízo de toda a classe. O papel das agências, dos publicitários e das produtoras passou a ser visto como meio de transferir recursos para campanhas e contas particulares. Não estou aqui, vejam bem, fazendo acusações novas. Tudo isso já foi provado pela Força Tarefa, que conduz o maior processo de combate à corrupção já visto neste país.

A mudança, do porte da que estamos vivendo, é muito positiva. Mas de nada adiantará se, nos primeiros dias do futuro governo, não houver a sinalização clara de que de fato estaremos entrando num novo tempo, em nova fase, preocupada em solucionar os graves problemas do país e usar, de forma objetiva e racional – e moral -, os recursos. É muito grande o volume de verba destinado à propaganda governamental. O governo Dilma tem gasto em média mais de R$ 2 bilhões em mídia por ano. Somados, os governos Lula e Dilma, apenas com a mídia televisiva, gastaram R$ 13,9 bilhões e outros R$ 2,1 bilhões com os jornais e revistas. Ou seja, estamos falando de volumes enormes que, até por isso, devem ser gastos de forma competente, equilibrada, livre de interferências e, o que é melhor, sem desperdício.

A nova fase, que, ao que tudo indica, está a caminho, tem tudo para melhorar a percepção das pessoas em relação ao governo, à imagem do país, aos serviços públicos. Essas verbas podem usar as concepções consagradas da comunicação social e podem passar a ter um papel de altíssima relevância para a sociedade. Os programas sociais, as campanhas da área da saúde, os serviços de utilidade pública, tudo isso pode ter um upgrade, com o uso racional dos recursos, contratações eficientes, trabalhos consequentes e, o que é melhor, resultados muito acima daqueles que nós temos visto até agora.

É preciso levar em conta, mais que tudo, o tamanho do país, a necessidade de as mensagens chegarem a todos os rincões, de atingir de forma diferente aos mais variados públicos. Temos de passar à população as informações que podem ajudar no dia a dia, que podem melhorar sua qualidade de vida, favorecer o crescimento e salvar vidas.

A propaganda precisa voltar a ser vista não apenas como o meio para informar sobre produtos ou propagar sonhos de consumo. Ou ainda ser vista como meio que usa a mentira para eleger políticos. Ela precisa ser vista como ferramenta de desenvolvimento pessoal, como política de governo, por sua relevância, poder e papel educativo. Se o governo olhar com novos olhos para essa área, colocar as pessoas certas nos lugares certos, poderá contratar melhor, gastar menos e ter um saldo final muito mais positivo. O modelo baseado no aparelhamento político nos tem levado a uma propaganda de mau gosto, mal produzida e pouco preocupada com o uso dos recursos e com o que pensam os brasileiros sobre esse eficiente meio de comunicação e aqueles que vivem honestamente de seu ofício.

Roberto Duailibi é conselheiro da DPZ&T