Na falta do que fazer, de assuntos mais relevantes para comentar, a imprensa mundial dedica páginas e páginas para falar de novidades que provavelmente, que certamente, que nunca, chegarão ao mercado. E, se um dia chegarem, não terão a menor relação com aquilo que hoje as pessoas entendem.

Por exemplo, nos últimos dois anos não se fala de outra coisa que não seja o tal de carro autônomo. Começa que carro autônomo não é carro.

Pode até ser na aparência, mas, em meu entendimento, carro sem piloto não é carro ou automóvel. É outro meio qualquer de transporte, que mereceria outra denominação.

Mais ainda, e já que prescinde de motorista, por que não repensar o design do novo habitáculo a partir do zero e considerando o que verdadeiramente é importante para pessoas que não têm mais o que fazer com os pés e as mãos?

E podem, finalmente, se reencontrarem com o prazer e a alegria da natureza e o contemplar das paisagens. Ou, se preferirem, concentrarem-se num livro.

Agora o assunto são os tais de aviões sem pilotos. Se carro sem motorista é alguma coisa para começar a se pensar lá para meados da próxima década, o avião sem piloto é para, e no mínimo, 50 anos a partir de agora. Ou seja, lá para 2070.

Se é que até lá as pessoas, para viajarem, precisarão de aviões ou transporte físico com todas as conquistas da comunicação quântica.

Ainda semanas atrás, cientistas chineses anunciaram ao mundo que conseguiram teletransportar um objeto da Terra ao espaço através de um processo denominado de Emaranhamento Quântico.

Mas, avião mexe com a cabeça das pessoas. E quase todas as celebridades já arriscaram frases sobre avião. Até quem deu escala e sentido econômico aos “pretinhos”, o Henry Ford, e que dizia quando cruzava com alguém de cabeça baixa, “Quando tudo tiver parecendo ir contra você, lembre-se que o avião decola contra o vento, e não a favor dele”. Embora jamais passasse por sua cabeça nem carro e muito menos avião sem piloto.

Mas o assunto rende, as pessoas discutem, e as empresas aéreas fazem os cálculos da economia que conseguirão. A American Airlines se animou e colocou na ponta do lápis.

No ano passado a empresa americana recorreu aos préstimos de 16.550 pilotos, que custaram a bagatela de US$ 4,5 bilhões. Se nos tais de avião sem piloto, embarcasse apenas um e por precaução, já faria uma economia de 37%, ou seja, quase US$ 1,7 bilhão no ano.

Mas se a galera já tivesse perdido o medo e o avião pudesse voar sozinho sem nenhum piloto a bordo, a economia saltaria para 74%, ou seja, US$ 3,33 bilhões.

E aí foram perguntar para os tais de “russos”, isso mesmo, os clientes ou passageiros, se voariam num avião sem piloto. 17% responderam sim. 54% responderam “nem por um cacete”. E 29% não entenderam a pergunta, pediram para repetir, começaram a se sentir mal e recusaram-se a responder. Alguns desmaiaram… E 3% se assustaram e saíram correndo…

Isso posto, todos tratando de acordar e ocupar os espaços da mídia para assuntos mais relevantes, plausíveis e verdadeiros.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)