A disrupção atingiu definitivamente as campanhas eleitorais e o jeito de nos relacionarmos com os candidatos. Como outras indústrias atingidas em cheio pelo mundo digital, esta também é uma indústria que terá de se reinventar, por um motivo muito simples: não há nada mais potente do que o tempo real. Ao mesmo tempo, não há nada mais volátil do que a opinião das pessoas. Durante processos eleitorais, há pessoas que mudam de opinião na hora de apertar o número do candidato diante da urna eletrônica.

Isso deve mudar a postura de todos os integrantes da imensa roda de produtos e serviços de comunicação que orbitam ao redor das eleições, sejam marketeiros experimentados, institutos de pesquisa, jornalistas, veículos de comunicação em geral. Neste mundo que já era delineado há mais de dez anos por Henry Jenkins em seu livro Cultura da Convergência, candidatos criam os próprios canais diretos de comunicação com as pessoas, as transformam em veículo, subvertem a velha lógica do horário de propaganda eleitoral gratuito. Muita água rolou desde os primórdios deste cenário descrito por Jenkins, quando o YouTube entrou o jogo das eleições, suscitando especulações sobre as consequências de dar ao público “um lugar à mesa” no debate político.

O candidato à Presidência que liderou as pesquisas do primeiro ao último dia no primeiro turno teve parcos 8 segundos para se manifestar no horário eleitoral gratuito na TV, virou game e lançou um aplicativo de conteúdo, com vídeos fresquinhos e compartilháveis 24 horas por dia. Outro candidato, que ficou em segundo lugar no primeiro turno e tinha dois minutos e 23 segundos de propaganda diária na TV aberta, chegou a trocar mensagens pelo WhatsApp com uma amiga minha. Pode haver algo mais disruptivo em um processo eleitoral do que um candidato à Presidência da República estar acessível via celular?

Se hoje caminhamos para um resultado eleitoral em que todos perdem (como sugeriu o meme profético de Dilma Rousseff, apenas para colocar um pouco de humor na paisagem), eu diria que o WhatsApp – ou Zap, como é carinhosamente chamado – é o grande vencedor das eleições de 2018 no Brasil. Juntamente com o celular, que acompanha dez entre dez eleitores do país. Seu uso exacerbado transformou o aplicativo de mensagens em uma gigantesca rede social, um verdadeiro fenômeno com mais de 120 milhões de usuários, um dos maiores números da rede globalmente. Quase 100% das pessoas que possuem celular no Brasil usam o WhatsApp. Senhoras de 80 anos usam WhatsApp. Crianças de oito anos também.

São mais de 1 bilhão de usuários no mundo, e mais de 50 bilhões de mensagens enviadas por dia, em mais de 50 idiomas. O WhatsApp faz a SMS parecer embolorada. Chego a me assustar quando alguém envia uma mensagem por SMS, ferramenta dominada por spams, promoções de lojas e restaurantes e avisos nem sempre festivos da operadora de celular, do cartão de crédito e do banco. Um verdadeiro trem fantasma.

No WhatsApp escolhe-se a tribo que habitará sua lista de bate-papo. É um espaço privado, mais “leve” do que as redes sociais tradicionais: fala ao pé do ouvido. Ou grita, dependendo de quem usa, claro. Para os profissionais de marketing eleitoral, já é considerado estratégico, especialmente no convencimento de eleitores indecisos. Curiosamente, o aplicativo ficou de fora da regulamentação da campanha política digital. Com isso, teve espaço de sobra para se tornar o principal veículo de disseminação de conteúdos, inclusive toneladas da nossa velha conhecida fake news. Na guerra de opiniões extremadas em que nos metemos, o WhatsApp virou ferramenta de guerrilha para candidatos e palco de muitas brigas entre pessoas que costumavam até se gostar. Há muito o que aprender sobre comportamento humano a partir do WhatsApp. Margens de erro sempre existirão, claro, porque pessoas são, por essência, imprevisíveis e volúveis. Mas se há algo certo, em toda essa experiência que vivemos, é que nada será como antes.