Hoje comento sobre histórias que se repetem de forma recorrente no ambiente corporativo. Empresas que fazem uma longa caminhada para chegarem, finalmente, um dia, no mesmo lugar de onde partiram. Não deveria ser assim; não precisaria ser assim; mas, é! Como nos ensinou Giuseppe Tomasi di Lampedusa, “É preciso que tudo mude para que tudo se mantenha”.

Agora é o disruptivo Airbnb que se encontra muito próximo de realizar sua maior descoberta! Adivinhe o quê? Não, errou! O Airbnb está muito próximo, a poucos metros e segundos de descobrir… o… hotel!

Não é comum, mas, às vezes, acontece. Parte-se de um determinado ponto e caminha-se em reta e numa determinada direção. Mas, aos poucos, sem que se dê conta, está mesmo é se caminhando em círculo e, quando menos se espera, num determinado dia, descobre-se, chegando, no mesmíssimo lugar de onde se partiu. Até parece pegadinha… Pegadinha que a vida nos prega, armadilha decorrente de ambição cega e desmedida.

É o que parece, tudo leva a crer, estar acontecendo com o Airbnb. Lembra, aquele aplicativo genial que aproximava quem tinha espaço disponível e precisava de uma graninha, com quem queria se hospedar de forma mais cordial e acolhedora por um preço mais acessível?

Mesmo considerando-se ter nascido de forma absolutamente circunstancial – como quase tudo – o Airbnb revolucionou e mudou o negócio de hospedagem. Multiplicou algumas vezes a quantidade de espaços disponíveis para locação em milhares de cidades de todo o mundo mediante alguns toques no smartphone.

Em síntese, um aplicativo genial e disruptivo. Uma empresa bilionária. Linda, leve e solta. Apenas no Brasil, por exemplo, no ano passado, foi utilizado por mais de 1 milhão de usuários. Sem possuir um único quarto. Muitas vezes mais que os principais hotéis das grandes redes.

“Porém, aí, porém”, como diz a música do Paulinho da Viola, vêm as tentações. E, num determinado momento, por condições de clima, temperatura, prepotência e burrice acaba se mergulhando na armadilha disfarçada de oportunidade. Assim, foi com total perplexidade que analistas depararam-se, semanas atrás, com a informação que o Airbnb vai construir prédios com sua marca nos Estados Unidos. O motivo?

Livrar-se das reclamações de donos de edifícios e demais proprietários de imóveis que se incomodam com o fato de seus vizinhos estarem alugando seus apartamentos para estranhos. Assim, desde a concepção, quem comprasse uma unidade saberia que aquele prédio específico nasceu para e também usar o aplicativo.

Explicando a iniciativa, que começa por Miami e um prédio de 324 apartamentos, o diretor de parcerias do Airbnb disse: “Essa parceria mostra como proprietários, incorporadoras e Airbnb podem trabalhar juntos”. Não!!! Proprietários e Airbnb, sim e sempre. Incorporadoras, jamais! É outro business!

Isso posto, por consequência, quase 200 anos depois do aparecimento dos primeiros hotéis, tal como conhecemos hoje – na época, “Grand Hotel” – o Airbnb descobriu-se, tentando caminhar para frente; mas, de verdade mesmo, caminhando em círculo. Pior ainda, caminhando para trás! E acaba de inventar, adivinhe o quê? O hotel! Estamos na iminência do primeiro disrupsuicídio da digisfera. Até onde chega o delírio decorrente de ambição infinita e cegueira exuberante.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)

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