As últimas semanas foram agitadas. A semana passada, especialmente. O mundo anda agitado. Tenho o hábito de anotar ideias para artigos e anotei várias, desde o meu último, o que dificultou muito a escolha. O tema assédio, claro, foco da pesquisa do Grupo de Planejamento, foi uma grande bomba que caiu sobre as cabeças de todas as pessoas que atuam na indústria da comunicação. Assediadores e assediados se enxergaram no estudo, que escancarou que a cultura do assédio segue entranhada e não há outro caminho a seguir a não ser encarar o monstro e olhar bem dentro dos seus olhos. É preciso passar bem longe da ironia e da dissimulação – elementos que são tipicamente associados ao assédio. Este – como muitos outros – é um tema à flor da pele, cheio de nuances e paixões, sensível como um vaso capilar. Qualquer coisa que se diga, dependendo de como se diga, pode desenterrar minas e gerar atritos. Por isso é preciso cuidado, é preciso delicadeza.

Cuidado e delicadeza, por sinal, são conceitos aparentados, e andam, definitivamente, um pouco negligenciados. Não só porque as pessoas estão, sim, mais estressadas, por inúmeros motivos e, certamente, um deles é o acachapante volume de estímulos ao nosso redor o tempo todo. Isso nos faz estar em constante estado de “atenção parcial para as coisas”, com muito pouco tempo dedicado à reflexão, como lembrou a socióloga americana Amber Case em uma entrevista que li no jornal El País, na semana passada. Não refletir o suficiente e prestar pouca ou nenhuma atenção à grande maioria das coisas nos torna um bando de trolls desajeitados, desastrados, cometendo erros toscos, que podem ter consequências muito desagradáveis. Mais reflexão – e principalmente a leitura correta do ambiente, como me aponta sempre um amigo – podem evitar muitos mal-entendidos. Ler o ambiente é não só perceber o “clima” das coisas e dos humores ao nosso redor, mas absorver o Zeitgeist, considerando a história – algo que também costumamos esquecer um bocado. História, matéria negligenciada, que estuda o ser humano e sua ação no tempo e no espaço, é fundamental na compreensão de como e principalmente por que chegamos até aqui. E nos ajuda a andar para frente, evoluir, abandonar “hábitos”, deixar de repetir erros grosseiros. Erros históricos.

Desconhecimento histórico, desconhecimento em geral, gera insegurança, gera medo. Andamos com medo, e muitos novos medos vêm da perplexidade com a desconstrução do que nos é familiar e a completa reinvenção de quase tudo que nos rodeia: relacionamentos, profissões, mobilidade, entretenimento, consumo, segurança e liberdade. O futuro nunca foi tão desconhecido e essa “nova imprevisibilidade” nos torna, mais uma vez, criaturinhas desajeitadamente movidas (ou paralisadas) pelo pânico. Foi o que constatou o estudo (tema que entrou para a minha lista de temas para artigos), sobre os “Medos que pairam sobre nós”, da FCB. Na página de apresentação do estudo, o destaque é uma frase da jornalista Eliane Brum, que afirma que a internet acelerou e tornou mais eficiente a disseminação do medo, de uma maneira geral, “assim como a fabricação de monstros para serem destroçados”. A fabricação desses monstros vem, em grande medida, da falta de reflexão, de aprofundamento.

Falamos muito, refletimos pouco, agimos menos ainda e seguimos descuidados, indelicados, administrando o que de fato são, precisamente, os nossos próprios medos. Lembrar que a nossa história está envolvida na história do mundo, que somos, sim, todos responsáveis e estamos todos implicados, pode ser um bom começo para combater o medo, cuidar das nossas ações, e evoluir.