Em um filme muito falado de 1993 um meteorologista rabugento que trabalha para uma pequena emissora de TV nos Estados Unidos é designado para cobrir o “Dia da Marmota”, que prevê o prosseguimento ou não do rigoroso inverno numa cidadezinha americana. Por desígnios do destino, vive retido em um mesmo dia após dia repetido à exaustão, até que… bem, é o filme! São as mesmas cenas, acontecimentos e pessoas com as quais interage dia após dia.

Aqueles que como eu vivenciaram o final dos anos 70 e principalmente os anos 80 do século passado certamente conviveram com “o dia da marmota” das cenas de filas colossais nos postos de combustível. Que julgávamos extintas.

 Filas que se formavam minutos após a grave locução de Cid Moreira no Jornal Nacional da rede Globo anunciar mais um aumento no preço dos combustíveis a partir da meia noite.

No auge da crise do petróleo do final dos anos 70 do século passado, filas se formavam nos postos para abastecer os veículos antes do fim de semana, quando os postos… fechavam!

Filas para abastecer os veículos à noite, antes das 20 horas, pois os postos fechavam e abriam… só após as seis horas da manhã seguinte. Filas redivivas no cenário atual.

Como coordenador de um curso de graduação em Ciências Sociais, tenho me preocupado em demonstrar aos estudantes os conceitos ensinados. Saltar dos livros para realidade do meio ambiente, o que frequentemente é extremamente difícil, quando não impossível. Filmes da época são o mais próximo de que dispomos para ilustrar os acontecimentos.

Mesmo porque não passa pela cabeça deles uma inflação de 1%… ao dia.

Não passa pela cabeça deles não haver seu produto de preferência nas prateleiras do comércio. A falta de remédios. Voos cancelados por falta de combustível. Restaurantes com cardápio reduzido.

Observando o cenário caótico dos últimos dias, não pude deixar de refletir que nossos jovens estão a presenciar uma realidade que somente os nascidos antes de 1970 puderam vivenciar.

Uma aula de história-viva. No processo de aprendizagem, nada supera a vivência do que é transmitido.

Nossos jovens estão tendo a oportunidade, pela primeira vez em sua vida, a presenciar e experienciar um cenário de emergência. Essencial para moldar seu caráter e nutri-los de informações que até então se limitavam às páginas dos livros de história.

Podem estar observando cenas que poderão estar presentes em suas vidas mais do que imaginavam. Que, por vias tortas, deverão interessa-los pelo processo eleitoral que se avizinha.

 E quiçá prepará-los para ajudar de fato a transformar nosso país.

Mário René Schweriner é  coordenador do Núcleo de Estudos em Ciências do Consumo Aplicadas da ESPM (mrene@espm.br).