Na semana passada, tive a chance de liderar um exercício muito interessante e importante para o setor MICE (Meetings, Incentive, Conferences, Exhibitions). Foi o Think Tank Futuro MICE, organizado pela EventoFacil. Perto de 40 líderes do setor, entre clientes, gestores de agências e demais players do segmento, participaram de um esforço coletivo concentrado de reflexão sobre o futuro.

Resistimos às delícias do Royal Palm, num sabadão ensolarado, para a dedicação de um dia inteiro de estudos, discussões e dinâmicas para chegarmos aos insights que serão apresentados no dia 5 de junho, na abertura do Congresso Mice Brasil, em São Paulo.

Chegamos a uma dúzia de macro-insights, nos quais estou trabalhando para um relatório que será apresentado e debatido no evento. Mas um deles se sobressaiu: equilíbrio. Não foi de todo surpreendente para mim.

Já no Cannes Lions do ano passado, presenciamos diversas discussões, em palestras e painéis, que redundavam na busca pelo equilíbrio.

Depois de uma overdose de tecnologia – AI, VR, AR, Big Data, IoT, Learning Machines e outros que tais – presente nas edições anteriores, em 2018 o festival refletiu um desejo de equilíbrio, principalmente aquele entre a tecnologia e os valores humanos.

E o nosso Think Tank da semana passada, naturalmente, destacou esse equilíbrio como algo previsível para o futuro próximo e mais ainda para as próximas décadas.

Apareceu a figura do pêndulo: quando “puxamos” demais para um lado (no caso, a tecnologia), há naturalmente um movimento contrário, na busca pelo equilíbrio. Mas não foi só em relação à tecnologia e aos valores humanos que apareceu a balança do equilíbrio.

Foi também entre o virtual e o presencial, entre a individualidade e a coletividade e até nas relações entre clientes e agências, um tanto quanto estressadas pela atitude leonina de alguns clientes.

Como contraponto ao famigerado FOMO (Fear of Missing Out – Medo de se perder algo) apareceu o JOMO (Joy of Missing Out – Prazer em se perder algo). Muito disseram: “Eu não vi Game of Thrones e me sinto bem por isso”. Muitos já não aguentam mais a ditadura de precisar estar a par de tudo, de conhecer a última ferramenta que surgiu na semana passada.

Muitos não estão nem aí para a última moda, preferindo curtir valores mais nobres e duradouros. Mais tal discernimento e serenidade têm muito a ver com outro ponto que também se sobressaiu no brainstorming coletivo que fizemos: educação.

Não só aquela ligada ao conhecimento – que é, sim, de vital importância –, mas, principalmente, a educação holística. Aquela que tem a ver com o respeito mútuo, com a intolerância com o preconceito e o desrespeito aos valores humanos.

A que traz a paz entre as pessoas, mesmo entre aquelas de posições e interesses contrário. E aí bateu um baixo-astral entre aqueles que analisavam esse importante ponto em relação ao nosso combalido Brasil.

Talvez o maior prejuízo ocasionado pela má administração governamental no Brasil dos últimos anos tenha sido o atraso na educação.

E não dá para falar de futuro sem falar da educação. E a pergunta que ficou no ar foi: conseguirá o Brasil pegar o bonde do desenvolvimento humano e econômico sem tirar o atraso da educação? A resposta é difícil, já que não se percebe um movimento claro nesse sentido.

Uma frase de William Gibson foi apropriadamente usada no relatório de um dos grupos do estudo: “O futuro já chegou. Só está mal distribuído”. Mas apareceu também a esperança.

A esperança de que prevaleça o bom senso e a boa vontade de se correr para eliminar esse incômodo gap entre o Brasil e os países mais desenvolvidos. Mas, para isso, precisamos – voltamos ao ponto inicial – do equilíbrio. Que a previsão dos meus colegas de estudo esteja certa e o futuro venha com muito equilíbrio.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional das Agências de Propaganda) (alexis@fenapro.org.br)