Época Negócios – Barbara Bigarelli e Anna Carolina Negri – conseguiu. Entrou na intimidade da família do mágico. Ele, Wizard. Carlos Wizard Martins. Mágico e mórmon.

Formal e indisfarçável “bom gosto” americano: “A casa dos Martins fica em Campinas. É ampla, com mil m2, campinho de futebol e piscina, garagem para uma dezena de carros. Na sala em que os Martins recebem as visitas, móveis clássicos, um piano de cauda branco que ninguém toca (na sala contigua há outro preto, também intacto… só dois grandes vasos de flores de plástico). Não há televisores. Carlos cansou-se deles, prefere não deixar-se contaminar pelo pessimismo que impera nos jornais…”.

O mágico abre a matéria com uma grande foto de página inteira. Um braço e uma mão soltos e em paralelo ao corpo. A outra, no bolso. 61 anos, boa forma, formal. Camisa, calça e sapatos sociais, mesmo com um termômetro nos 34º… Carlos é casado com Vânia. Charles e Lincoln são dois de seus filhos; gêmeos.

E, assim os gêmeos foram introduzidos à realidade e ao mundo dos negócios. O ano era 2001. Carlos foi convocado para uma missão na Paraíba, pela Igreja Mórmon, por três anos. Seu grupo – o Multi – entrou em ebulição. Tentativa de apeá-lo do comando. Da mesma forma com que foi convocado, convocou os filhos para assumirem a empresa e interromperem os estudos nos Estados Unidos. Acabavam de completar 22 anos: “Costumo dizer que joguei os dois garotos em uma piscina com água-viva, tubarões e outros perigos… Mas eles se saíram bem, fizeram uma boa dupla. O Lincoln é forte em varejo, atendimento e expansão. Charles é forte em estratégia, financeiro e administrativo…”.

A disciplina Mórmon. Quando completaram 18 anos, os gêmeos foram cumprir a missão assumida com a igreja. Dois longos anos servindo a causa de Cristo. Charles foi para Moçambique, Lincoln para o Texas. Mauro Junot, líder da igreja Mórmon no Brasil, explica à Época Negócios: “A missão muda a vida deles. É quando praticam inglês, dedicam-se a estudos, comandam projetos. Aprendem a cozinhar, a sair da zona de conforto e a praticar a autossuficiência. Ficam praticamente incomunicáveis. Não há férias, Natal ou aniversário em família. Sete dias por semana, 10 horas por dia…”.

Este talvez seja o quinto ou sexto comentário que faço sobre Carlos Wizard Martins. Fez bem de incorporar o Wizard ao nome. É! Mas sua impulsividade para os negócios é infinitamente acima do normal e tende a atirar-se em todas as oportunidades, piscinas que cruzam por sua frente de sapato, paletó, coração, alma, muitas vezes sem reparar o quão cheia estão essas piscinas. Hoje sua impulsividade está relativamente sob controle porque todas as decisões passam pela aprovação da família, muito especialmente, dos gêmeos. Mas os gêmeos, filhos de mágico, também têm o componente da impulsividade rondando por perto e têm de fazer um tremendo esforço para se controlarem e não mergulhar junto com o pai em todas.

“Todas” significava, em 2010, após uma sucessão de aquisições, tornar-se o maior grupo franqueador do Brasil, superando O Boticário. Nesse momento, por R$ 2 bilhões, vendeu tudo para Pearson. Inclusive o nome Wizard. Com um pouco dos R$ 2 bilhões, na sequência, mergulhou nas compras. 2011, Orion e Logbras; 2012, Hub Prepaid; 2014, Mundo Verde; 2015, Ronaldo Academy; 2015, Rainha e Topper; 2016, Taco Bell; 2017, Academia de Futebol Palmeira; 2017, Aloha; 2017, Wise Up…

Onde a família do mágico vai parar? Não tenho a mais pálida ideia. Mas, mesmo sendo agnóstico e não sabendo rezar direito, dentro das minhas limitações, peço que as forças da natureza e os ventos do destino cuidem dessa família de malucos. Em verdade, os mesmos que fazem a roda girar e inspiram novos, pequenos, e futuros, mágicos. Abracadabra, Alakazam, Shirigudin Comihuaru, Sinsinsalbin, Expectropolis, Hocus pocus, Ticezamun…

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)